São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Itamar cobra hoje de FHC definição sobre preços

Presidente acha que diálogo com empresariado já se esgotou

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O presidente Itamar Franco viajou ontem de Santiago do Chile para Brasília com uma reunião já agendada para hoje com o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, na qual cobrará uma posição sobre o que considera abusos do empresariado na remarcação de preços.
O presidente acha que o tempo do diálogo com o empresariado –a única arma até agora esgrimida pela equipe econômica- já se esgotou e, pior ainda, não funcionou. Por isso, quer ter à mão o que chama de "medidas drásticas" para punir os responsáveis por aumentos abusivos.
O principal instrumento é um projeto de lei em elaboração pelo consultor jurídico Alexandre Dupeyrat, que fixa penalidades aos oligopólios que descumprirem os termos da medida provisória que criou a URV. Na MP, está dito que abusivo é o preço que superar a média, em URV, praticada nos quatro últimos meses de 1993. Mas a MP limita-se a dizer que, constatado o abuso, o governo chamará para explicações a empresa responsável.
Se a conversa com FHC enveredar pelo terreno político-sucessório, o presidente já tem definidas na cabeça duas coisas: a primeira é a data da eventual saída de Fernando Henrique da Fazenda (28 de março, em princípio). A segunda e mais importante é atribuir ao ministro a a função de negociador político do plano econômico, na sua dupla condição de senador e de virtual candidato governista à Presidência.
Ao imaginar FHC como o gerente político do plano, o presidente dá a entender que vai preferir um técnico e não um político para novo ministro da Fazenda. Ele próprio disse, em Santiago, que "o gerenciamento (técnico) do plano não vai exigir tanto". Logo, se a parte política, a mais delicada doravante, ficar a cargo do próprio FHC, o razoável é supor que o novo ministro deva ser um técnico. Ficam, com isso, mais fortes as possibilidades de que o substituto de FHC seja ou seu assessor especial, Edmar Bacha, ou o presidente do Banco Central, Pedro Malan.
Se o ministro perguntar ao presidente se deve ou não ser candidato, Itamar dirá rotundamente que sim. O raciocínio que o presidente tem feito junto aos amigos é o de que candidatura é uma questão que depende de momento. Quem perde o momento adequado pode não ter outra oportunidade.
Itamar evitou avançar mais no lançamento da candidatura FHC, alegando que essa é uma tarefa que cabe ao próprio candidato. Até sob esse prisma, a conversa de hoje com FHC é importante. O presidente entende que o governo está perdendo o que chama de "batalha dos preços" e quer evitar que haja uma derrota definitiva. Itamar acha que o sucesso do plano FHC depende, em boa medida, de uma vitória nessa queda-de-braço com os oligopólios. É óbvio que o sucesso do plano seria a melhor carta de apresentação da candidatura Fernando Henrique.
Prisioneiro
Itamar transformou-se, sábado, em virtual prisioneiro da suite 640 do hotel Sheraton, onde se hospedou em Santigo. Prisioneiro, na verdade, de sua visceral aversão a ser fotografado como cidadão comum.
Depois de ser recebido pelo novo presidente do Chile, Eduardo Frei, Itamar voltou ao Sheraton por volta de 13h. Subiu à suite 640, vestiu uma camisa polo cinza e foi almoçar no restaurante do hotel.
Ao terminar o almoço, Itamar queria ir a um shopping center, mas topou com o plantão dos fotógrafos. Preferiu então subir para a suite. Desceu por volta de 16h30. E os fotógrafos ainda de plantão. O presidente disfarçou e foi olhar as lojas do próprio hotel. Sitiado, convidou os dois repórteres que estavam no lobby do hotel para um café na cafeteria do Sheraton. No bate-papo, o presidente revelou sua ânsia em livrar-se dos chatos de plantão. "Por que vocês não voltam hoje mesmo para o Brasil?", perguntou.
A descontração da conversa animou o presidente, que estendeu o papo por uns 50 minutos. Itamar subiu ao 640 outra vez, mas não tardou a descer. Foi jantar, de novo no hotel. Os fotógrafos foram também. Ao sair, Itamar cumprimentou um a um e rendeu- se: "Podem ir descansar que eu vou dormir". Foi. Sem passeio, sem compras mas também sem fotos à cidadão comum.

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