São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Lorscheider já sofreu ameaça de morte

DA REPORTAGEM LOCAL

As idéias progressistas no campo dogmático e o apoio à politização da Igreja no Brasil custaram ao cardeal-arcebispo de Fortaleza, d. Aloísio Lorscheider, uma "carta-advertência" do Vaticano, em 1988. Apesar das pressões contra seu trabalho, o cardeal é uma das personalidades mais respeitadas na hierarquia da instituição, tendo sido, inclusive, presidente do Celan (Conselho Episcopal Latino Americano), que reúne os bispos de todo o continente.
À frente do Celam, Lorscheider dirigiu o encontro de Puebla (México, em 1979) onde foram definidas as diretrizes da igreja no continente latino-americano. Entre elas estão a opção preferencial pelos pobres, a crítica ao capitalismo e aos regimes militares e a luta pela reforma agrária como forma de acabar com a miséria.
Nascido em uma colônia alemã em Estrela, no Rio Grande do Sul, Lorscheider é neto de alemães. Após assumir a arquidiocese de Fortaleza, em março de 72, ele começou a defender pequenos proprietários de terras, entrando em conflito com os latifundiários do Estado. Por suas posições, foi ameaçado de morte. Em 1985, seus dois cachorros foram mortos por envenenamento. Em 87, uma bomba caseira explodiu no jardim de sua casa, mas ninguém saiu ferido.
A casa do cardeal chegou a ser invadida por dois homens que não roubaram nada, mas tentaram chegar ao quarto do arcebispo, fugindo quando foram descobertos.
Um dos conflitos mais graves entre Lorscheider e o governo do Estado por questões de terra aconteceu em 1986. O então-secretário da Segurança Pública do Ceará, José Feliciano de Carvalho, responsabilizou as Comunidades Eclesiais de Base por um confronto entre posseiros e fazendeiros que deixou quatro mortes.
Em resposta, Lorscheider afirmou: "Se as Comunidades Eclesiais de Base são assim tão perigosas, o secretário deveria prender primeiro a nós bispos, a começar pelo do Ceará, porque desde 1962 começamos no Brasil a promover as CEBS e incentivá-las. Prender, se quiser, até o papa, que nos manda promovê-las."(Luis Henrique Amaral)

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