São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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FMI exige respaldo político de FHC a acordo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, chega hoje a Washington para tentar obter com argumentos políticos um entendimento com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que permita a entrada em vigor, em abril, do acordo com os bancos credores particulares e dê ao seu plano econômico o indispensável endosso da comunidade financeira internacional.
A expectativa em Washington nos últimos dias era de que o ministro só viria para cá quando a negociação técnica estivesse concluída. Ele chegaria apenas para sacramentar o acordo e colher os frutos políticos dele decorrentes. Mas a viagem de hoje acabou sendo decidida porque o respaldo político da sua presença pessoal foi considerado essencial.
O presidente do Banco Central, Pedro Malan, tem conversado com técnicos e dirigentes do Fundo desde o sábado e não deu declarações a jornalistas nenhuma vez. O prazo para uma decisão foi adiado do dia último dia 10 para depois de amanhã. Novo adiamento inviabilizaria a entrada em vigor do acordo com os bancos na data projetada e traria prejuízos para a credibilidade do plano econômico no Brasil capazes de inviabilizá-lo.
A opinião dos técnicos do Fundo sobre o programa de Fernando Henrique Cardoso é em geral boa. Eles acham que, dadas as circunstâncias, não havia muito a se fazer diferente do que foi anunciado. Mas eles duvidam da consistência da parte fiscal do plano. Acham difícil acreditar que os números ali colocados possam ser atingidos.
Aí entra o fator político. O Fundo não é uma instituição apenas técnica. Ninguém ignora que há eleições presidenciais este ano e que o líder nas pesquisas de intenção de voto é Luiz Inácio Lula da Silva. A falta de um entendimento com o Fundo pode propulsionar a candidatura do PT e poucos querem correr o risco de serem responsabilizados por isso.
Esses elementos, no entanto, não foram suficientes por si para que o acordo fosse fechado. A presença de Fernando Henrique em Washington foi considerada essencial para os dirigentes do FMI se convencerem do grau de compromisso do governo com as medidas que constam do seu programa econômico, em especial depois de sua saída para se candidatar à Presidência.
Fernando Henrique corre o risco de vir e não conseguir fechar o entendimento. Mas se não viesse, a possibilidade de fracasso era ainda maior, segundo avaliaram seus assessores.

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