São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Empresas reduzem prazos para escapar da URV

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para escapar das discussões para adoção da URV (Unidade Real de Valor) nas vendas a prazo, parte da indústria e comércio voltou ontem a fechar contratos em cruzeiros reais com prazos de pagamento inferiores a 30 dias. "Dessa forma as negociações não ficam travadas", diz Felinto Koerber, diretor administrativo financeiro da Tigre, fabricante de tubos e conexões. Nos contratos com prazos maiores do que 30 dias, as negociações continuam paradas.
A Tigre, diz, não tem condições de vender em URV porque os fornecedores da sua principal matéria-prima, o PVC, também não o fizeram. "Há também uma grande dúvida quanto à incidência de ICMS e IPI nos contratos fechados com base no novo indexador."
Segundo ele, a impressão que dá é a de que os impostos serão indexados diariamente. "Se isso acontecer, os novos custos subirão." Segundo ele, no Estado de Santa Catarina, onde está localizada a Tigre, as empresas têm até o dia 10 do mês seguinte para efetuar o pagamento do ICMS referente às faturas do mês anterior e só cinco dias têm incidência de juros. Os outros cinco estão livres. "Está aí um ponto obscuro nos contratos em URV."
Esta também é uma das dúvidas na Consul. Por essa razão, a empresa está trabalhando em cruzeiros reais e dando preferência para as vendas à vista. "Acredito que a adaptação ao novo indexador deve acontecer até o final do mês", afirma Welson Teixeira Jr., diretor administrativo financeiro.
Segundo ele, a indústria de eletrodomésticos só está conseguindo vender à vista. Ontem, informa ele, os bancos pararam de efetuar operações pelo sistema Vendor -pelo qual a indústria vende para o comércio a prazo, mas recebe o dinheiro praticamente à vista do banco; assim, o comércio tem que pagar a dívida para o banco, tendo como avalista do contrato a indústria que fez a venda. Segundo ele, 70% dos negócios da Consul são feitos por esse sistema.
A Gessy Lever é outra que está tentando vender e comprar em cruzeiros reais. "São muitas as questões que precisam ser esclarecidas antes de se fechar contratos em URV. A maior dúvida é a fiscal", diz Ronald Rodrigues, diretor de assuntos corporativos da Gessy e vice-presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação).
Ele conta que a Gessy já tem uma tabela de preços em URV. Para a conversão, afirma, a empresa tomou como base a média de preços dos últimos quatro meses do ano passado. A Folha apurou ontem que boa parte das redes de supermercados do país voltou a fechar negócios em cruzeiros reais com prazo de pagamento de 28 dias –para esse período, a taxa de juros praticada nas negociações variaram de 38% a 42%.
Denis Ribeiro, economista da Abia, diz que muitas das dúvidas dos empresários terão que ser resolvidas entre eles. Uma delas é a taxa de juros praticada nos contratos em URV, que não pode ser maior do que 1,5% ao mês, diz.
Empresas do setor eletroeletrônico não definiram como vão operar com o novo indexador. Diretores da Sharp e da Philips não quiseram falar ontem sobre o assunto. Uma das grandes redes de lojas do país, a Casas Bahia, já "urvizou" preços de alguns produtos eletroeletrônicos e vai negociar com seus fornecedores em cima deles.

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