São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Nasce mais uma seleção de momento

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nasce mais uma seleção brasileira. Mais uma. Não porque o técnico seja indeciso ou a desorganização do nosso futebol não deixe outra saída. Também por isso. Mas, sobretudo, porque o futebol, como dizia Rubens Minelli, é momento. Ora, se a seleção, pelo próprio significado, é a escolha dos melhores e o jogo é como as nuvens do político mineiro, a cada momento teremos uma seleção.
Eu mesmo acabo de escalar o time para esta Folha que, certamente, não era o meu preferido há um mês, e que muito provavelmente deverá deixar de sê-lo daqui a um mês. Claro que alguns jogadores estão acima da temporariedade. Mas mesmo estes sempre estarão em xeque. Por exemplo: Nílton Santos, considerado um dos maiores jogadores da Copa de 54, às vésperas da Suécia teve de amargar uma incômoda reserva de Oreco, o discreto e eficiente lateral do Corinthians. Djalma Santos, recentemente votado o maior lateral do mundo de todos os tempos por jornalistas de todo canto, raça, credo e língua, foi reserva de De Sordi até a final de 58.
Há um ano ninguém em sã consciência pensaria em tirar Raí do time. Muito menos em substitui-lo por Mazinho, que mal conseguia justificar-se diante da torcida do Palmeiras. Hoje é ponto pacífico: Raí não mereceria nem a convocação, enquanto Mazinho merece uma chance no time de cima.
Até bem pouco tempo, se havia uma posição onde sobravam craques, era a zaga central: Júlio César, Aldair, Márcio Santos, Ricardo Rocha, Mozer, Antônio Carlos, Válber, Ronaldão, Ricardo Gomes, sei lá quantos mais. Ontem, ao escalar a minha seleção, embatuquei na quarta zaga, e acabei optando por Válber, mesmo sabendo de suas deficiências nas bolas altas.
Rivaldo, por exemplo, teve uma performance incrível na temporada passada, e foi um daqueles raros casos de jogadores que entraram na seleção brasileira e não sentiram o peso da camisa. Alto, inteligente, versátil, tanto ajuda na marcação do meio de campo quanto vai lá na área inimiga faturar de cabeça, de pé, de falta, não importa. Pois bem: por seu potencial merece ser titular. Mas estará jogando no Corinthians de hoje o suficiente sequer para ser convocado? Por outro lado, Zinho é a imagem da regularidade e tem cadeira cativa no time de Zagalo (por consequência, no de Parreira). Mas será que não há uma solução melhor, mais completa, mais ofensiva e surpreendente, sem que se abra o meio-de-campo? Eu acho que sim, mas Parreira e Zagalo, certamente, não.
Quem se lembra de Elivélton? Foi outro dia, gente! Um menino de 20 anos, que incorporou a magia de um Canhoteiro e a eficiência de um Zagalo na mesma seleção de Parreira. Falar hoje de Elivélton é crime lesa-futebol.
Como se vê, não é fácil juntar os 22 melhores craques brasileiros. Nunca foi. A história está cheia de injustiças gritantes. Mas mesmo essas, se analisadas no contexto da época exata e não depois de um largo período de tempo, quase nunca foram injustificadas verdadeiramente.
Quem falta nesse grupo que Parreira convocou para o jogo contra a Argentina? Provavelmente ninguém que neste exato momento esteja praticando um futebol superior. Edmundo? Está machucado. Muller? Também. Dener? Talvez. Embora tenha intercalado momentos de inspiração com momentos de depressão no Vasco da Gama. De qualquer forma, Dener deveria ser chamado, digamos, no lugar de Edílson, para ficarmos com um jogador do mesmo estilo, porte e técnica.
Mas, aqui entre nós, nem Edílson nem Dener jogarão pra valer no time de Parreira. Então, por que gastar latim à toa?

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