São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Olhe onde pisa

THALES DE MENEZES

A explicação dada na semana passada sobre a oscilação do desempenho dos tenistas durante o ano, em virtude do tipo de quadra em que eles jogam, motiva uma nova discussão, pedida por telefonemas de leitores. Para quem nunca jogou tênis, pode ser estranho falar tanto de problemas de adaptação à quadra. Mas as dificuldades realmente existem, mesmo para os melhores tenistas do mundo.
As quadras podem ser divididas em três tipos: sintéticas, de terra batida e de grama. O grupo das chamadas quadras sintéticas engloba várias espécies de piso, de tapetes emborrachados a cimento puro e simples. Em qualquer quadra sintética, a trajetória das rebatidas é mais regular.
Exemplo: se uma bolinha vem a uma altura de um metro e quica no solo com velocidade de 60 km/h, ela vai praticamente manter sua velocidade na subida (a diminuição é mínima), alcançando quase a mesma altura. Por isso, numa quadra sintética é mais fácil antecipar a velocidade e a altura da bola após ela pingar no chão. Os tenistas norte-americanos são os mais habituados a esse tipo de quadra.
Já os europeus e sul-americanos estão acostumados às quadras de terra. Na verdade, podem ser de saibro, argila ou pó-de-tijolo. É tudo a mesma coisa. Basta assistir um jogo numa quadra dessas para perceber como levanta poeira quando a bolinha quica no chão. Como a terra é "fofa", a bolinha "entra" um pouco no chão. Por isso, essa quadra deixa a marca da bolinha, facilitando o trabalho dos juízes de linha.
Com esse ligeiro afundamento da bola, ela é amortecida e perde velocidade. Além disso, a quadra funciona também como um daqueles "morrinhos artilheiros" do futebol, fazendo a bolinha quicar mais alta. Para complicar um pouco mais, o pé do tenista desliza na terra, e isso atrapalha quem prefere a firmeza do piso sintético.
Finalmente, a quadra de grama. Talvez seja a mais difícil, porque é a superfície menos usada hoje em dia –só Wimbledon e alguns torneios menores a utilizam. Na grama, a bolinha "escorrega" quando quica. É o efeito contrário ao da quadra de terra. Assim, ela sai mais baixa e mais rápida do que veio. Há tenistas que desistem da grama. Em 1977, quando era o melhor tenista do mundo, o argentino Guillermo Vilas perdeu em Wimbledon para o desconhecido Billy Martin. Arrasado, Vilas disparou a frase: "A grama é para as vacas!". E nunca mais voltou.

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