São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fura faz estréia de "M.T.M."

JAIR RATTNER
DE LISBOA

O grupo catalão La Fura del Baus estreou no último sábado em Lisboa sua nova e mais violenta peça: "M.T.M.". Levados a Lisboa dentro da programação da Capital Européia da Cultura, o Fura realiza um espetáculo em que trata da manipulação de informação.
"Estivemos em São Paulo, em Jerusalém e no País Basco e vimos a violência latente nas ruas. Achamos que o teatro tem que espelhar essa violência", explica Carlos Padrisa, coordenador artístico e um dos principais atores da peça, que traz cenas de tortura no palco.
Montado num armazém do porto de Lisboa, o espetáculo rompe com a estrutura do palco tradicional. Em várias partes da peça, os espectadores têm que sair da frente para não serem atropelados pelo palco em movimento. Sobre o público, é jogada água e tripas de animais.
Uma câmara de televisão capta imagens que são projetadas em vários telões colocados nas paredes do espaço, ilustrando a manipulação da imagem.
A peça está dirigida ao público do La Fura del Baus, que o grupo conhece através de pesquisas: 82% são frequentadores de concertos de música, enquanto apenas 65% vão regularmente ao teatro. O ambiente inicial é o de uma discoteca e toda a música da peça é para dançar.
No início, os atores encontram-se no meio do público, dançando, até que são encontrados por "funcionários" vestidos de macacão, despidos e colocados em cima dos palcos. "O teatro é a liberação da pessoa. A nudez pode definir o homem sem complexos", explica Pradisa.
"M.T.M." inclui desde números de malabarismos até tortura no palco. Num momento em que um dos atores grita contra a tortura que está sendo realizada, outros despem-no, penduram de cabeça para baixo e colocam um fogo de artifício no ânus. Várias vezes são projetadas palavras-chave e expressões nas paredes, como "amor" ou "precisa-se do esforço de todos para construir um povo".
Levou seis meses para o grupo preparar a peça "M.T.M.". "Nós, os oito membros do grupo, partimos do nosso famoso método caótico. Depois, cada responsável cuida da sua área e tomamos as decisões em conjunto", relata Padrisa.
O nome da peça serve para o grupo se divertir arrumando traduções para as iniciais –desde Mil Tortilhas (omeletes) Mistas, Minha Tórrida Mutação, Magnum Teatrum Mundi (do dramaturgo espanhol Calderón de la Barca) até Membros Totalmente Mortos, tudo serve. Em Lisboa, os dez espetáculos marcados estavam com a lotação esgotada antes da estréia. (Jair Rattner)

Texto Anterior: Bob Wilson leva "Alice" ao público português
Próximo Texto: Contrato; Doação; Mostra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.