São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Turma do besteirol encena Plínio Marcos

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A turma do nonsense e da esculhambação resolveu enfrentar o universo violento e solitário de Plínio Marcos. Em junho, o diretor Marcus Alvisi e os atores Diogo Vilela, Louise Cardoso e Jorge Fernando –todos pioneiros do teatro besteirol– iniciam os ensaios de "Navalha na Carne", clássico da dramaturgia brasileira contemporânea. O quarteto acaba de comprar os direitos da peça por US$ 1,5 mil. "Pretendemos estreá-la em São Paulo, assim que a Copa do Mundo terminar", diz Vilela.
Plínio Marcos escreveu "Navalha" há 27 anos. Poucos meses antes, em 1966, lançou "Dois Perdidos numa Noite Suja". Tanto uma peça quanto a outra lhe renderam o rótulo de "maldito", que nunca mais abandonou.
Em "Navalha", o dramaturgo santista réune três personagens num quarto sujo de hotel: a prostituta Neusa Sueli, o cafetão Vadinho e o homossexual Veludo. O trio discute durante toda a peça, que tem apenas um ato. Ora brigam por dinheiro, ora por maconha. O que parece uma mera sucessão de agressões é, na verdade, uma teia de sugestões psicológicas. "Os diálogos de Plínio Marcos comportam sempre dois planos: o das palavras, simples, elementar, e o dos sentimentos, das relações inexpressas. 'Navalha' é violenta, mas sadia –como um palavrão na boca de um homem do povo", comentou o crítico Décio de Almeida Prado.
"Profético, o texto de Plínio retrata o país de ontem e o de hoje. Resolvemos montá-lo quando percebemos que Neusa Sueli, Vadinho e Veludo se transformaram em tipos muito próximos de todos nós", afirma Vilela. "Na década de 60, os três perambulavam por um mundo marginal, que parecia longe da classe média. Agora, com a violência se espalhando pelo Brasil, Neusa Sueli podia ser minha prima."
Diogo Vilela e Marcus Alvisi protagonizaram, no início dos anos 80, o musical "As Mil e Uma Encarnações de Pompeu Loredo". A peça -de Vicente Pereira e Mauro Rasi, com direção de Jorge Fernando– está entre as precursoras do besteirol. Gênero que Louise Cardoso abraçou também na década de 80, quando fez "A Mente Capta".
Em 88, o besteirol –um produto tipicamente carioca– ganhou repercussão nacional com o humorístico "TV Pirata", que a Globo exibiu durante três anos. Vilela e Louise participavam do programa.
"Os dois são grandes atores –e grandes atores podem fazer qualquer coisa: besteirol, drama, musical ou 'Navalha na Carne' ", diz Plínio Marcos.

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