São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Clinton se defende em 'comício'

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

O presidente dos EUA, Bill Clinton, voltou ontem a New Hampshire, o Estado da Costa Leste do país onde há dois anos conseguiu revigorar sua campanha presidencial que parecia condenada ao fracasso com surpreedente vitória na primeira eleição primária do seu partido, para desta vez tentar salvar o seu governo, em crise por causa das repercussões do caso Whitewater.
Em tom de comício, ele acusou o Partido Republicano, de oposição, de fazer "política de destruição pessoal" e disse que "isso é errado e é ruim para os EUA". Falou sobre educação, defendeu o projeto de reforma do sistema de saúde produzido por sua mulher, Hillary, e ganhou aplausos.
Em Washington, o líder da oposição no Senado, Bob Dole, fez pouco caso dos ataques do presidente: "Que é isso, Bill? Dá um tempo. O inverno foi longo e frio e talvez tenha deixado todo mundo um pouco ranzinza. Mas a primavera está chegando. Relaxe, passeie lá fora, aproveite o sol. Lembre-se de que a eleição acabou e você ganhou", disse Dole.
Lee Hamilton, importante deputado do Partido Democrata, que apóia o presidente, tornou-se o primeiro representante do governo a apoiar a idéia de comissão parlamentar de inquérito para investigar o caso. "Eu acho que ainda existe a impressão de que a Casa Branca está segurando informações. Essa é a pior coisa para o presidente. Ele deveria apoiar qualquer iniciativa no sentido de liberar todas as informações", disse.
A primeira-dama Hillary Clinton passou o dia de ontem em ritmo de campanha: viajou ao Estado de Missouri (Meio-Oeste), onde participou de vários compromissos públicos de defesa do seu projeto de reforma do sistema de saúde. Ela insinuou que o caso Whitewater foi inflado pela oposição republicana para impedir a aprovação de seu plano pelo Congresso.
Na Casa Branca, a sensação é de que a "República de Arkansas" (Estado-natal de Clinton) acabou a partir da demissão do subsecretário da Justiça, Webster Hubbell. Ao assumir o governo em janeiro de 1993, o casal Clinton colocou em diversas posições-chave da administração federal amigos próximos dos tempos em que ele era governador de Arkansas. Vários deles já renunciaram e um, Vincent Foster, morreu por aparente suicídio.
O caso Whitewater, nome de uma firma de construção civil fundada pelos Clintons e por James e Susan McDougal em 1979, destruiu a República de Arkansas. A Whitewater não declarou imposto de renda por três anos, cometeu diversas irregularidades contábeis e é suspeita de ter servido de fachada para desviar recursos de forma ilegal para campanhas de Clinton.
Nos desdobramentos do caso, foram levantadas acusações de conflito de interesses contra Hillary Clinton, que defendeu diversos amigos e cabos eleitorais de Clinton em processos que envolviam o Estado de Arkansas quando ele era governador. O casal também é acusado de ter sonegado US$ 45.441 do imposto de renda.
A próxima vítima do caso pode ser outro antigo aliado dos Clintons: o subsecretário do Tesouro, Roger Altman. Na condição de presidente interino da agência federal que regula as instituições financeiras do país, Altman permitiu que investigadores do caso Whitewater falassem com assessores de Bill e Hillary Clinton sobre o seu trabalho. Esses encontros contrariam códigos de ética do governo federal e podem ser considerados obstrução da justiça.

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