São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Máfia paga assassinos por líder da Mãos Limpas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Máfia siciliana contratou assassinos profissionais com o objetivo de matar o juiz Antonio di Pietro, principal dos magistrados responsáveis pela Operação Mãos Limpas, que há dois anos conduz investigações sobre a corrupção na Itália. Segundo a TV italiana, os mafiosos já fizeram um pagamento inicial de 500 milhões de liras (US$ 300 mil) pelo "contrato".
Além de Di Pietro, que atua em Milão (norte do país), outro alvo da Máfia seria o juiz Angelo Giorgiani, de Messina (Sicília). Em suas investigações, os dois magistrados bloquearam contratos para obras públicas suspeitos de irregularidades no valor de 4 trilhões de liras (US$ 2,35 bilhões), em que empreiteiras ligadas ao crime organizado estariam envolvidas.
Segundo o jornal "Corriere della Sera", o plano para assassinar os dois juízes foi descoberto com a interceptação de conversas entre mafiosos presos em Messina por microfones ocultos dentro das celas. As autoridades estabeleceram medidas de segurança mais rigorosas em Milão e em Messina depois que o plano foi descoberto.
O "contrato" foi revelado na segunda-feira à noite, pouco depois da descoberta de uma bomba dentro do Palácio da Justiça de Messina, onde Giorgiani trabalha. O artefato, que não chegou a explodir, teria sido colocado como "advertência" ao juiz. O plano original dos assassinos era matar os dois em junho do ano passado, quando Di Pietro visitou Messina para coordenar ações da Operação Mãos Limpas na Sicília.
O "Corriere" diz que a Máfia também está planejando "colocar em cena" falsos mafiosos arrependidos, que fingiriam colaborar com a Justiça com o objetivo de passar informações falsas e desacreditar as investigações.
Nos últimos dois anos, a Operação Mãos Limpas revelou vários casos de suborno de políticos por empresários, entre eles executivos de grandes grupos, como Ferruzzi, Fiat e Olivetti. Os principais partidos foram os mais acusados de envolvimento, como a Democracia Cristã, que chegou a mudar de nome, e o Partido Socialista.
Outra vertente das investigações apontou ligações de políticos com a Máfia. É o caso do democrata-cristão Giulio Andreotti, sete vezes primeiro-ministro, acusado de envolvimento com o crime organizado e de conspiração para assassinatos. Ele nega as acusações.
O início das investigações anticorrupção coincidiram com a intensificação das ações contra a Máfia, particularmente após o assassinato de dois juízes que combatiam o crime organizado, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em maio e junho de 1992.
Enquanto a Mãos Limpas já provocou o indiciamento de mais de mil pessoas, a operação anti-Máfia levou à captura de alguns dos principais "chefões" do crime organizado, entre eles o siciliano Salvatore "Tot•" Riina, preso em janeiro de 1993.

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