São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Sindicatos em xeque

Líderes das principais centrais sindicais do país saíram de uma reunião com o governo reiterando a ameaça de promover uma greve geral em protesto contra supostas perdas causadas pelo plano econômico. É uma ameaça que chama a atenção exatamente porque causa muito menos repercussão do que já fez em outros tempos.
De fato, depois de um renascimento explosivo no final da década de 70, o movimento sindical consolidou-se e inseriu-se, pela sua atuação concreta, como um personagem decisivo no cenário político e econômico nacional. O sindicalismo pode não ter perdido esse caráter –e as recentes reuniões com o governo federal são prova disso–, mas o seu desempenho prático parece estar atravessando hoje um sensível enfraquecimento.
O número de greves realizadas no país, com efeito, registrou uma grande queda nos últimos dois anos face ao período anterior. Segundo dados do Dieese, entre 1986 e 1991, todos os anos –com exceção de um– registraram uma média mensal de paralisações superiores a 90, chegando mesmo a atingir 183 em 89 e 163 em 90. Pois essa média mensal despencou para 52 em 92 e para 61 no ano passado.
Não é um resultado que deve surpreender, na verdade, já que reflete também as circunstâncias da conjuntura. A deterioração da situação econômica e, particularmente, o desemprego –problema que perdurou em 93 apesar do crescimento do PIB– tendem naturalmente a enfraquecer os sindicatos. O maior número de trabalhadores desocupados reduz o poder de barganha daqueles que estão empregados, tornando-os mais sequiosos de preservar suas posições.
É de se notar ainda que esse problema não se restringe ao Brasil. Na medida em que o desemprego se consolida como um dos principais dilemas –se não o principal– até nos países desenvolvidos, o mesmo fenômeno tende a se repetir. E a queda dos trabalhadores sindicalizados nos EUA ou a aceitação, na Alemanha, de jornada e salários menores são reflexos de uma conjuntura difícil que promete prosseguir –tanto lá quanto no Brasil– por tempo ainda imprevisível.

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