São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 1994
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Soma que subtrai

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O senador Mario Covas foi um dos mais ativos membros da CPI que acabou levando ao cadafalso o governo Collor. Antônio Cabrera foi um dos símbolos da era collorida e permaneceu no ministério (da Agricultura) até o último minuto.
Agora, os dois poderão ser vistos juntos, no mesmo palanque, se se fizer mesmo a coligação PSDB-PFL. Afinal, Cabrera é hoje o presidente do PFL paulista e não poderia, pela lógica, ficar longe do palanque de Covas. Talvez desse até um bom vice.
Como o eleitor reagiria ante essa hipótese? Asco seria uma palavra exagerada ou branda para descrever a reação?
Incompatibilidades à parte, a eventual coligação não serve sequer para o seu objetivo evidente, que é do mais puro oportunismo eleitoral. Supor que esse tipo de alianças funcione é um raciocínio já obsoleto. Pertence a um Brasil em que a ordem de um dado cacique político para se votar em fulano ou beltrano era seguida à risca.
O Brasil mudou. Menos do que deveria ter mudado, mas mais do que supõe a sabedoria política convencional. Basta tomar-se o exemplo de Antônio Carlos Magalhães, o cacique pefelista que governa a Bahia e foi o primeiro a lançar a idéia da coligação PSDB-PFL. Se ACM fosse tão bom de voto quanto parecem supor os tucanos, não teria sido derrotado, faz apenas ano e meio, na eleição para a Prefeitura de Salvador, o maior colégio eleitoral da Bahia.
Detalhe: ACM perdeu, então, justamente para o PSDB. Ora, se não precisou de Antônio Carlos para ganhar no maior colégio da Bahia há 18 meses, para que o PSDB precisa dele agora? Se ganhou contra ele, não pode ganhar sem ele?
Alianças sem lógica intrínseca, como essa entre PSDB e PFL, apenas acirram a já enorme má-vontade (para dizer o mínimo) do eleitorado em relação aos políticos em geral. A sociedade percebe que há nelas apenas um oportunismo desavergonhado. O mecanismo pode, por isso, funcionar exatamente às avessas do que se pretende. Ou seja, em vez de dar votos, tirá-los.

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