São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Quércia busca imagem de 'centro-esquerda'

ANDREW GREENLEES; EMANUEL NERI
DO PAINEL

EMANUEL NERI
Enquanto procura vencer as resistências a seu nome dentro do PMDB, Orestes Quércia já prepara sua estratégia para a campanha presidencial. Diz que dará prioridade total à busca de votos nas classes C, D e E. Prometerá uma política de emprego e desenvolvimento. Seus alvos preferidos, acrescenta Quércia, serão tanto a elite empresarial "que ganha às custas do Estado" como os "corporativistas instalados na estrutura estatal".
Ao adiantar o estilo que pretende imprimir à campanha, o ex-governador indica que haverá fortes componentes populistas em seu discurso. O próprio Quércia diz que deseja fazer um governo "pragmático", deixando claro que não gosta de definir ideologicamente sua candidatura e seu programa de governo. Mas, diante de insistências, afirma que será candidato de "centro-esquerda".
Para reforçar a imagem de candidato preocupado com a questão social –tema que considera terá peso fundamental na eleição–, Quércia anuncia que, se eleito, formará um "conselho do presidente", órgão ainda em fase de esboço, mas que reuniria representantes de entidades da sociedade civil. O objetivo do conselho seria auxiliar o presidente e ministério na formulação de políticas sociais.
Em seu escritório paulista, cercado por quadros que reproduzem as curvas das pesquisas de popularidade de seu governo em São Paulo e das eleições de que participou, Quércia coloca em prática o discurso anti-elite: "Outro dia, fui convidado para ir à Associação de Bancos e mandei dizer que não ia. O Lula ia. Eu prefiro ir em associação de bairro." Depois de amanhã, Quércia lança, em Cuiabá (MT), a "Catilha do Desenvolvimento" –espécie de gibi que servirá de esboço para seu programa de governo.
O ex-governador aposta ainda em seu desempenho no horário eleitoral gratuito para subir nas pesquisas. O publicitário Chico Santa Rita, responsável pelos programas em campanhas anteriores, já prepara a próxima. Quércia também se prepara para enfrentar adversários que baterão no seu ponto vulnerável –a suspeita de que enriqueceu à medida que ocupava cargos públicos. "Vou reagir de forma dura", diz.
Outro problema de Quércia é seu elevado índice de rejeição –27% segundo a última pesquisa do Datafolha. Mas o ex-governador lembra que a rejeição a ele vem caindo –antes era 34% –, além de estar abaixo de candidatos como Leonel Brizola (38%) e Paulo Maluf (32%). Quércia diz ter condições de chegar ao segundo turno da eleição. O pré-candidato de hoje gosta de se colocar numa situação que lembra a de 86, quando disputou o governo de São Paulo: naquela época, começou sem o apoio da cúpula partidária e corria atrás nas pesquisas. Resta saber se, na atual situação do ex-governador Orestes Quércia, a história tem condições de se repetir.

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