São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Salário pela média provoca controvérsia

DA REDAÇÃO

A conversão dos salários pela média dos últimos quatro meses é um dos pontos mais polêmicos da medida provisória da URV. As centrais sindicais pressionam o Congresso para que a conversão seja pelo pico. O governo resiste, ameaçando vetar eventual mudança neste ponto, sob o argumento de que isso quebraria a lógica do Plano FHC e desencadearia a hiperinflação aberta no país.
Os sindicatos, assessorados pelo Dieese, apontam grandes perdas para todas as categorias de trabalhadores porque comparam a média com o pico (salário real no mês da última data-base). O salário-pico, dizem eles, é o salário justo. Qualquer coisa abaixo disso cristaliza a corrosão provocada pela inflação passada.
Em relação aos salários de fevereiro ou março, corrigidos pelas regras antigas, as perdas ou ganhos, sempre na ótica dos sindicalistas, variam de categoria para categoria. Umas estão no chamado pico, outras próximas à média e as demais no "vale", ou seja, no mês anterior ao da data-base ou do reajuste quadrimestral.
O governo se defende com o argumento de que a conversão pela média resulta no salário que o trabalhador efetivamente recebeu, em termos de poder aquisitivo, nos últimos quatro meses. A conversão é pela URV do dia do efetivo pagamento, inclusive adiantamentos (ver quadro com os valores da URV). Isso mantém a situação passada e previne novas perdas se a inflação se acelerar.
Trabalhadores de sindicatos fortes, que no último acordo garantiram reposição integral pela inflação passada, têm uma média bem próxima do pico no critério de caixa (salário real apurado no dia do pagamento, e não no dia 1º do mês a ser trabalhado).
Se a conversão for pelo pico, diz o governo, o corre-corre de salários e preços seria transferido de cruzeiros reais para a URV e precipitaria uma hiperinflação.
Os sindicatos desconfiam do plano e dizem que a inflação pode voltar na nova moeda. Como nos planos anteriores, o salário pela média sofreria novo achatamento. Por isso, querem um gatilho para prevenir perdas futuras.
O governo diz ter condições de equilíbrio fiscal (contas públicas ajustadas) e macroeconômicas (empresas reestruturadas e mais enxutas, reservas externas folgadas etc.) propícias a que a inflação se mantenha baixa, ao contrário dos planos anteriores.
Também devem ser introduzidas "âncoras" cambiais e monetárias para garantir inflação próxima de zero. A revisão constitucional traria reformas estruturais no setor público. Ganhos reais de salários podem ser naturalmente conseguidos, mais tarde, com a recuperação da economia, diz o governo.

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