São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Média para oligopólios não afeta inflação

Assessor da Fazenda diz que vários setores já estão dentro da média dos últimos quatro meses do ano passado
Da Sucursal de BrasíliaO comércio poderá continuar praticando descontos nos preços à vista depois de convertidos em URV (Unidade Real de Valor), afirmou ontem o assessor especial de preços do Ministério da Fazenda, Milton Dallari. O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Levy Nogueira, disse que "num setor competitivo como o nosso, não dá para abrir mão do sistema de promoções".
Dallari explicou que os descontos nos preços à vista não significarão que os valores estarão "inflados" ou contaminados pela "expectativa inflacionária". Um dos objetivos da URV é eliminar esse componente da formação dos preços. Dallari também disse que os descontos poderão ser concedidos quando as empresas conseguirem preços melhores nas compras em grandes quantidades ou até mesmo para desovar estoques.
Os descontos concedidos pelos fornecedores é outra queda-de-braço entre os supermercados e a indústria, disse ontem o presidente da Abras. Segundo Levy Nogueira, o varejo quer que a conversão em URV pela média dos últimos quatro meses de 93 –caso dos oligopólios– considere os descontos, o que faz a média cair, metodologia não aceita pelos fornecedores. Esse é um dos problemas a resolver para que as vendas sejam feitas em URV.
Dallari afirmou que a conversão dos preços de alguns oligopólios em URV pela média dos últimos quatro meses de 1993 não significará uma redução para o consumidor. Dallari também avaliou que a inflação ficará em torno de 10% ao ano quando a nova moeda, o real, for criada. Assim, contradisse o ministro Fernando Henrique Cardoso, que estima inflação zero em real.
Entre os oligopólios (empresas que dominam determinados setores da economia, podendo ditar preços) exemplificados por Dallari estão os automóveis, produtos de higiene e limpeza, remédios e alimentos industrializados, que "ficarão estabilizados quando passarem para URV", afirmou Dallari no encontro de delegados da Sunab ontem, em Brasília.
Dallari disse que o governo vai aconselhar o comércio e a indústria a cobrarem juros reais mensais de 1,7% a 2%. "Essa é a taxa oficial do Banco Central, acima disso está fora do razoável", afirmou. Para ele, o governo não tem como impedir que as lojas pratiquem juros elevados, mas prometeu "usar os instrumentos legais se o diálogo não der certo".
A conversão dos preços em URV de quatro setores oligopolizados –automóveis, alimentos industrializados, remédios e produtos de higiene e limpeza– não significará que os consumidores pagarão menos. Mesmo que a conversão siga a média de setembro a dezembro de 1993, conforme manda a MP (medida provisória) da URV, a alteração será mínima. A maioria desses preços em dezembro já equivalia, em termos reais, aos valores praticados neste mês. "Poderá haver um ajuste para cima ou para baixo em casos isolados, mas na média não haverá mudanças bruscas", afirmou Dallari.
Esses quatro setores aguardam apenas o Confaz (Conselho de Política Fazendária) votar a isenção da cobrança do ICMS nas vendas a prazo para começar a operar as vendas em URV, disse Dallari. A expectativa do governo era fechar ontem a redação da minuta que irá a votação dos secretários estaduais de Fazenda no próximo dia 28.

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