São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Sopa de tamanco

CARLOS SARLI

Quinta-feira passada eu estava na casa do Paulo Lima, editor da revista Trip. Iria embarcar no dia seguinte para o Havaí. Estávamos numa reunião e tínhamos outra agendada para as 15h. Pego uma revista americana sobre artes marciais, a "Black Belt", e vejo o artigo sobre o primeiro "Ultimate Fighting Championship". Fiquei instigado. O Paulo me traz o catálogo da segunda versão do evento, que aconteceria no dia seguinte em Denver, Colorado. Tomei a decisão. Liguei para a United Air Lines e antecipei meu embarque.
Em Denver, o "Mannoth Event Center" estava lotado. A primeira luta já havia começado. O público delirava quando os competidores trocavam socos e pontapés e vaiava quando eles iam para o chão, grudados, tentando a imobilização. Ficava mais difícil de entender o que estava rolando –literalmente– e também de assistir.
O "UFC II" contava com a participação de Royce Gracie, brasileiro, faixa preta de Jiu Jitsu quarto grau e vencedor da primeira edição do evento. Sem regras –a não ser a proibição de dedo no olho e mordidas–, sem juízes e sem tempo determinado, o evento teve critério de simples eliminação. Dos 16 lutadores selecionados entre os melhores do mundo –Japão, França, Espanha, Holanda, EUA e Brasil– sobraram quatro, depois dois e, finalmente, o "ultimate", o melhor.
O clima tenso no ginásio só era quebrado quando duas garotas de biquini passavam apresentando as modalidades do próximo embate, no mais autêntico estilo de boxe.
Algumas lutas tingiram com sangue o piso do ringue octogonal. Outras exigiram a presença dos paramédicos para levantar o derrotado. Até o final, a única unanimidade foi Pat Smith, 30, lutador americano de kickboxing de Aurora, Colorado –"local", portanto.
Royce não contava com a simpatia do público. Suas lutas foram as mais rápidas e sempre no chão. Por duas vezes seus oponentes levantaram, mas logo vinha o golpe de misericórdia. Uma chave de pescoço ou algo parecido obrigava o valente a bater no chão.
Com a torcida e o tamanho a seu favor, Smith foi para final com Royce. Tentou nos primeiros segundos golpeá-lo com chutes e socos, mas logo o brasileiro "entrou" nele e, em apenas um 1min17, o embate estava definido. Royce Gracie ficou com o título máximo e US$ 60 mil mais rico.
Apesar de não estar entre os considerados "esportes de ação" –que costumo cobrir na coluna– ação é o que não faltou. Valeu a pena a correria.

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