São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994 |
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MAC exibe produção de artistas finlandeses
CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
A arte pode criar seus próprios meios de investigação sociológica? Respondendo isto, um dos trabalhos mais incisivos da mostra é "Jackpot", a instalação interativa montada pela artista Marita Liulia. Com a ajuda de um computador e mais três vídeos, ela permite ao visitante a escolha de três imagens que representariam o tipo ideal de pessoa que gostaria de ser, o grupo a que gostaria de pertencer e o ambiente em que desejaria viver. Essas imagens, que giram como um caça-níquel, vêm de filmes comerciais, que interpretariam nossos mais íntimos sonhos numa sociedade de consumo. Com isso ela faz uma crítica muito perspicaz à economia do desejo e da motivação da sociedade contemporânea. Além disso, as escolhas do público são classificadas em cada exposição. A partir daí, é feito um estudo estatístico que interpreta as preferências do público. Também explorando o próprio território onde a exposição é feita, Jan-Erik Andersson mostra um trabalho que comenta a obra de Marcel Duchamp e procura ligá-la ao Brasil pela figura de sua modelo-amante brasileira, Maria Martins. "Um Encontro entre Duchamp e o Brasil" faz um misto bem-humorado de objetos de vários tipos, aludindo ao voyeurismo da arte. Jaakko Niemela trabalha com a memória em sua instalação "Caixa Preta". Usando o trocadilho da caixa-preta dos aviões, única peça que sobra para contar a história em caso de acidente, ele projeta imagens de seu próprio passado em sequência mutável, num recinto fechado. E como uma memória de sombras que vão recortando grafismos em preto-e-branco sobre a parede. Com o mesmo jogo entre espaço externo e mundo interior, Mariatta Oja instala vídeos onde liga espaços de moradia, de várias espécies, com os desejos a eles associados. Pekka Nevalainen contrapõe elementos perceptivos diversos, como hélices barulhentas, um alce que serve de alvo e um vídeo com imagens marinhas e som de música clássica. Liga elementos plásticos e sonoros para criar uma espécie de diário das contradições contemporâneas. Henrietta Lehtonen joga com o conceito de arte recuperando em sete pinturas monocromáticas verdes fragmentos de paisagens clássicas. A pintura, pretensamente preciosista quando olhada de perto, é feita com gestos rápidos e rudes, desestruturando o olhar. A própria série age sobre a banalização da imagem, deslocando a "arte" de seu lugar habitual. Mais evidente fica este procedimento quando a artista faz pinturas toscas em azul sobre porcelana branca. Esvai-se todo o preciosismo que o olho esperava encontrar nas decorações. É o puro deslocamento que fragmenta o sentido e tira o chão de sob os pés. Kari Juutilainen também atua sobre a pintura, mas recuperando a tradição geométrica e construtiva que predominava na arte finlandesa até os anos 80. Junta a seus planos geométricos coloridos incômodas chapas de alumínio e objetos metálicos. A rigidez de certas articulações justificam títulos irônicos como "Instruções para um Sistema Político". Com um pouco de ironia e em constante diálogo com a filosofia e a literatura, Jyrki Siukonen joga com tabuleiros de xadrez em "Todas as Proposições Têm Igual Valor". Próximo Texto: Museu expõe novos artistas Índice |
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