São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Callado deve ser eleito membro da ABL

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO

O escritor Antonio Callado, 77, colunista da Folha, deve ser eleito hoje membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), na vaga que era ocupada pelo jornalista Austregésilo de Athayde. Passada a eleição, Callado –autor de "Quarup" (1967), "Bar Don Juan" (1971) e "Reflexos do Baile" (1976)– espera concluir este ano um novo livro.
"Está bastante bem encaminhado, mas tem ainda alguns pontos de estrangulamento", afirma. Diz que ainda não tem título para a obra e que tem dificuldade para dar detalhes a respeito. O livro é sobre um homem que resiste em deixar um hotel e, quando sai, descobre que há um mundo esperando por ele do lado de fora.
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Folha – O sr. não precisou nem fazer campanha para conseguir sua vaga na Academia Brasileira de Letras, não é?
Antonio Callado – Calma, calma. Cadeira de Jânio para cima de mim não. Realmente tenho muitos amigos lá dentro. Mas podia ter sido uma campanha dura se aparecesse um candidato como o Tom Jobim. Em primeiro lugar, porque é uma companhia esplêndida e, segundo, acho que ele tem todo o material acumulado para ser membro de uma academia de letras. Mas ele abriu mão e a coisa melhorou.
Folha – Por que o sr. relutou tanto em concorrer?
Callado – A decisão foi algo um pouco repentino. Estou precisando de um clube, onde eu vá inclusive tomar chá, e encontrar pessoas que gostem dos livros.
Folha – Sua definição da ABL como clube de personalidades abre de vez as portas para que apóie a candidatura de Tom Jobim na próxima oportunidade?
Callado – Foi muito simpático o gesto do Tom de retirar seu nome agora. A vocação da academia é cada vez ficar mais aberta, desde que a pessoa tenha esta inspiração em direção à cultura, ao livro. O próprio Chico (Buarque) disse que acha a academia muito interessante. Por que não?
Folha – O problema é que o Chico já disse que tem um "compromisso hereditário" com uma carta que seu pai, o historiador Sergio Buarque, assinou contra a eleição de Getúlio Vargas à ABL, na qual diversos intelectuais afirmavam que jamais se candidatariam em protesto.
Callado – Isso é simpático, mas dá pena porque o Chico é um caso típico de um possível acadêmico do maior interesse. É um grande artista popular, um grande letrista e também um romancista. Uma figura cultural completíssima. Isso mostra uma abertura interessante da academia. O Tom só não entrará se não quiser. Está com muito boa receptividade. Só tive o voto do Jorge Amado, por exemplo, porque o Tom desistiu e ele passou para mim seu voto. O Marcos Vilaça, idem.
Folha – O sr é contra o fardão?
Callado – Sou, mas isso não tem jeito. Minha última descoberta é que ele é de casemira. Conversei com o Josué Montello para fazer de um tecido mais tropical. Aquilo fechado como é e ainda de casemira é muito violento. Vou ver se mudo pelo menos o tecido do fardão.
Folha – O sr. está escrevendo um novo livro.
Callado – Nunca fui de escrever muitos livros. Tenho impressão que esse agora sai, passada a eleição. Está bastante bem encaminhado, mas tem ainda alguns pontos de estrangulamento, que dão a ele um rumo que não é o quero que ele tome. Mas acho que agora vai. Não tem nem título ainda, porque deixo sempre para o fim.

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