São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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França julga colaborador do nazismo

FERNANDA SCALZO
DE PARIS

Começa amanhã na Corte de Versalhes, a sudoeste de Paris, o julgamento de Paul Touvier, ex-chefe de informação da milícia de Lyon durante o regime de Vichy (1940-1944). Touvier, 78, acusado de ter mandado fuzilar sete judeus em 29 de junho de 1944, será o primeiro francês a ser julgado por crime contra a humanidade.
O processo de Touvier, que se estende até 20 de abril, será para os franceses, antes de mais nada, o julgamento do regime de Vichy, que sob o comando do marechal Philippe Pétain colaborou com os nazistas durante a Segunda Guerra.
O fuzilamento dos sete judeus, ocorrido na cidade de Rillieux-la- Pape, próxima a Lyon, teria sido uma represália à morte de Philippe Henriot, secretário de Estado de Informação de Vichy, assassinado por membros da Resistência francesa dois dias antes. Touvier foi condenado à morte por traição em 1946. Conseguiu escapar e viveu escondido 45 anos, ajudado por religiosos. Touvier foi preso maio de 1989, em um mosteiro em Nice.
Em 1992, a corte de apelação de Paris absolveu Touvier de cinco dos seis crimes que lhe eram imputados, por falta de provas ou por prescrição. Sobrou apenas o fuzilamento de Rillieux-la-Pape, no qual Touvier confessou seu envolvimento. O principal argumento de defesa de Touvier era uma ameaça de morte pelos nazistas que pesaria sobre ele. Segundo Touvier, os nazistas teriam exigido cem vítimas e, graças a ele, foram fuziladas "apenas" sete.
Em 2 de junho do ano passado, a corte de apelação de Versalhes decidiu que Touvier deveria ser julgado por crime contra a humanidade, no processo que começa hoje. O primeiro-ministro Edouard Balladur foi citado como testemunha pelo advogado de defesa de Paul Touvier. O primeiro-ministro era secretário-geral adjunto da Presidência em novembro de 1971, quando Georges Pompidou assinou o decreto de graça presidencial que beneficiou Touvier.
A principal testemunha do julgamento de Touvier será Louis Goudard, membro da Resistência francesa que esteve preso com os sete judeus fuzilados. "Primeiro eu era católico, depois eles queriam tirar mais informações de mim", disse Goudard à TV francesa sobre o que o teria levado a escapar do fuzilamento.

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