São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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FMI avaliza FHC

A nota oficial divulgada ontem pelo diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Michel Camdessus, representa inequivocamente um respaldo enorme para o programa econômico do governo brasileiro e, por extensão, para o ministro Fernando Henrique Cardoso.
A nota de Camdessus chega a ser até surpreendente em seus termos, à medida que a instituição internacional ficara ressabiada, com toda razão, com os sucessivos descumprimentos, por parte de seguidas administrações brasileiras, de acordos fechados com o fundo. Era, por isso, natural que o FMI recebesse com cautela qualquer nova promessa de estabilização da economia, surgida de Brasília.
Aconteceu justamente o contrário. O FMI, por seu diretor-gerente, aceitou as promessas mais facilmente mensuráveis, como a de que o déficit operacional (incluídos os juros das dívidas interna e externa) será zero em 1994 e haverá um superávit primário (sem os juros) da ordem de 4% do Produto Interno Bruto. E aceitou também a retórica da equipe econômica, no sentido de que a introdução da URV será capaz de eliminar a indexação "backward-looking", ou seja, a que leva em conta a inflação passada.
O FMI, em consequência, se compromete a trabalhar estreitamente com as autoridades brasileiras, de forma a ajudar que o programa econômico lançado no último dia 28 de fevereiro seja "rapidamente" bem-sucedido. Mais: Camdessus compromete-se a estender a cooperação no futuro imediato, prometendo um acordo stand-by ou outra forma de estreita colaboração, em princípio quando for lançada a nova moeda, o real.
O sinal verde do fundo pavimenta o caminho para um acordo do Brasil com os bancos credores privados, o que, por sua vez, recolocará o país como hipótese de investimento, agora mais atraente. São tão enfáticos e até inusuais os termos da nota emitida pelo diretor-gerente do FMI que soam quase como um convite a que se invista no Brasil, o que, como é evidente, só poderá ajudar no êxito do plano.
Embora, como orgão técnico, o fundo não interfira em questões políticas internas, é inescapável uma leitura política da nota de Camdessus. Significa inegavelmente um firme respaldo da comunidade financeira internacional ao ministro da Fazenda, seja para o que lhe resta de gestão, seja, principalmente, para disputar a Presidência.

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