São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Apoio desconfiado

O comprometimento mais simbólico e político do que técnico e operacional do Fundo Monetário Internacional com o Plano FHC deixa um rastro de dúvidas que, a partir de agora, será fundamental reverter. Principalmente levando-se em conta que a filosofia do fundo é buscar garantias de que os governos cumpram rigorosamente suas metas de ajuste fiscal, condição de sucesso na luta contra a inflação.
O fato é que o Fundo Social de Emergência (FSE), a grande aposta do ministro da Fazenda, como era de se esperar, não bastou para convencer os auditores internacionais. O FSE seria uma forma de equilibrar as contas, mas o Orçamento em si ainda não foi votado –e pode ser objeto de toda sorte de emendas. Mais ainda, a própria medida provisória que criou a URV e implantou o plano econômico tampouco foi apreciada pelo Congresso. Outro fator de incerteza quanto às contas públicas é o fato de que uma eventual queda da inflação anularia o habitual expediente de adiar pagamentos para equilibrar o caixa. Sem falar nas incertezas sobre a permanência do próprio ministro. Portanto, é como se o governo iniciasse bem o jogo, mas deixando ainda preocupada a torcida.
A atitude do FMI (e do próprio governo norte-americano, que também não endossou completamente o plano) é de esperar para ver. Percebem-se motivos políticos tanto para apoiar genericamente quanto para aguardar com cautela o lançamento do real. Ao oferecer recursos próprios para a compra dos títulos do Tesouro dos EUA, que servirão como garantia no acordo com os bancos, o governo brasileiro reafirma sua aposta no sucesso do plano.
Entretanto, o processo de aprovação do FSE já foi tristemente didático. Houve recuos frente a Estados e municípios, por exemplo. E, no limite, o ministro teve de ameaçar com a renúncia para fazer valer seu projeto. Fora do ministério, como candidato, FHC não teria como recorrer a essa mesma forma de pressão. Resta saber se ao longo de 94 o governo terá fôlego para transformar o apoio simbólico do FMI em confiança num ajuste efetivo e tecnicamente consistente.

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