São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 1994
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Câmara nada pode fazer contra deputados

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A presidência da Câmara fará uma declaração contra os quatro deputados acusados pela CPI do Orçamento que renunciaram aos seus mandatos: Genebaldo Correia (PMBD-BA), Cid Carvalho (PMDB-MA), Manoel Moreira (PMDB-SP) e João Alves (sem partido-BA).
A medida foi a saída encontrada pelo presidente Inocêncio Oliveira (PFL-PE) para punir os deputados que usaram do golpe da renúncia para fugir das cassações.
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara concluiu ontem que a lei atual não permite a continuidade dos processos de cassação dos deputados que perderam seus mandatos com a renúncia.
Ao contrário da renúncia, a cassação impede o parlamentar de se candidatar por três anos. Os processos serão arquivados. Com a declaração, Inocêncio quer mostrar que a Câmara não concorda com a impunidade dos acusados.
"A solução é a declaração. Todos os acusados pela CPI terão o mesmo tratamento pela Câmara. Não é justo que alguns sejam privilegiados usando um artifício regimental", afirmou Inocêncio.
O regimento interno foi a base para o arquivamento dos processos. Inocêncio pediu um estudo jurídico da assessoria da Secretaria Geral da Câmara para decidir os termos da declaração.
Segundo Inocêncio, a declaração relataria que os deputados renunciaram durante o processo de cassação. Isso seria um argumento para a Justiça eleitoral impedir a candidatura futura dos deputados com base na emenda constitucional aprovada ainda em primeiro turno pelo Congresso revisor.
A emenda ao parágrafo 9 do artigo 14 da Constituição permite que a aplicação da inelegibilidade –proibição de concorrer as eleições– considere a moralidade e as atitudes anteriores do candidato. A emenda deverá ser aprovada ainda em nova votação e promulgada pelo Congresso revisor.
Lucena
O presidente da CCJ da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PMDB-AL), acusou o presidente do Congresso revisor, Humberto Lucena (PMDB-PB), de obstruir o julgamento dos deputados acusados pela CPI do Orçamento. A comissão adiou a votação do pedido de cassação do deputado Ézio Ferreira (PFL-AM) marcado para ontem porque Lucena manteve a sessão do Congresso.
Lucena havia assumido o compromisso de não marcar votações nos dias de julgamento na CCJ, segundo afirmou o presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE). Inocêncio vai pedir novamente à Lucena que considere prioritário o julgamento dos acusados pela CPI.
As normas de funcionamento do Congresso revisor proibem a realização de qualquer reunião nas comissões se houver sessão do Congresso. Caso a CCJ insistisse em realizar o julgamento, seu resultado poderia ser anulado.
"Não há necessidade de interromper a sessão da comissão durante o funcionamento do Congresso revisor, apenas no momento das votações, que começa por volta das 16h", afirmou Lucena.
"Recomendo ao presidente do Congresso que leia o regimento que ele próprio aprovou", afirmou Nonô. Pela manhã, o presidente da CCJ desafiou Lucena e manteve a sessão da comissão enquanto havia sessão do Congresso Nacional.
Nesse caso, foi usado um artifício comum no Congresso. As comissões apenas suspendem os trabalhos durante a votação para os deputados irem até o plenário. Pela manhã, não havia o risco de pedido de anulação da sessão da comissão que aprovou o fim dos processos de cassação dos quatro deputados que renunciaram aos seus mandatos.
Lucena foi acusado pelo deputado José Dirceu (PT-SP) de atrasar a votação no Senado do projeto que pune o deputado que renuncia para fugir da cassação.

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