São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Itamar mandará pagar o reajuste se STF decidir

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco não vai mesmo negociar com o STF ou com o Legislativo. Quer que o próprio tribunal diga se o aumento de 10,94% que se autoconcedeu, junto com o Congresso, é legal ou não.
Itamar decidiu aguardar que o tribunal julgue ação dos funcionários do Congresso que pedem os 10,94%. Se os juízes disserem que é legal, mandará pagar.
O presidente pediu que seu ministro da Justiça, Maurício Corrêa, fosse à televisão para fazer o anúncio. Ao comunicar a novidade aos auxiliares, Itamar revelou-se um homem magoado.
Resolveu também comprar uma outra briga: quer obrigar as estatais a fazerem a conversão dos seus salários à URV utilizando o último dia dos quatro meses.
Foi ontem, na hora do almoço. Cercavam-no os amigos mais chegados, a nata do "clube de Juiz de Fora". O presidente fez um desabafo. "Quando reajo, dizem que sou temperamental, teimoso. Quando demonstro serenidade, falam que sou omisso. Não sei o que essa gente quer", disse.
Itamar rejeitou, desde o início da semana, três propostas de acordo. Ontem, fazia-se de rogado: "Não me cabe negociar nada. Além disso, não me fizeram qualquer proposta".
O almoço foi servido no próprio Planalto, numa sala contígua ao gabinete presidencial. Itamar ofereceu aos amigos frango refogado, arroz, feijão e salada de legumes.
Lá estavam Mauro Durante (secretário-geral da Presidência), José de Castro (presidente da Telerj) e Henrique Hargreaves (Casa Civil).
Corrêa não chegou a tempo de comer. Sentou apenas para anotar as ordens do presidente. "Quero que você vá à televisão esta noite", ordenou Itamar.
O ministro esclareceu que já estava prevista sua aparição em rede nacional. Anunciaria um "pacote anti-violência". Sua fala estava gravada desde terça-feria.
Itamar mudou os planos do ministro. Mandou que gravasse outro pronunciamento. Deveria explicar ao país que o governo optou por aguardar a decisão do STF.
"Fale pouco", orientou. "No máximo cinco minutos. O ideal seriam três minutos. Evite falar no horário do jogo (Palmeiras X Cruzeiro), para não irritar o povo. Quero ver o discurso antes".
Entre uma e outra garfada, Itamar e seus convivas espetaram a imprensa. Fez-se referência direta à Folha. Itamar diz que já nem lê o jornal. "Eles só falam mal". Foi apoiado por José de Castro.
"Não comecei na vida pública ontem", afirmou Itamar, retomando o tom magoado. "A Presidência não é a porta de entrada, mas a porta de saída da minha trajetória política".
O presidente enxerga em seus "detratores" muita desinformação: "Os que me acusam deveriam observar melhor o meu passado de diálogo, de tolerância e de resistência à opressão".
Falou-se um pouco do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. José de Castro fez pilhéria do noticiário sobre suas desavenças com o ministro. "Sou FHC de carteirinha".

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