São Paulo, sábado, 26 de março de 1994
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Industrializados puxam a inflação

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alimentos devem continuar como o vilão da inflação em março. Mas com uma diferença: os industrializados roubam a cena dos "in natura" e dos semi-elaborados. Essa é a previsão de economistas especializados em índices de preços. Eles se baseiam no fato de que os preços dos produtos perdem o fôlego com a entrada da safra. No caso dos hortifrútis, alguns já atingiram o limite que o consumidor pode pagar –e começam a cair. Na contramão, a tendência de preços dos industrializados é de aumentar.
"Os industrializados vão dar a tendência da inflação nas próximas semanas", diz Heron do Carmo, coordenador-adjunto do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe. Segundo ele, varejo e indústria querem estar bem posicionados com suas listas porque não sabem o que o governo vai fazer na passagem para a nova moeda.
A tendência de alta dos industrializados começou a se esboçar no IPC da segunda quadrissemana de março, encerrada dia 15. Apesar de a inflação de 40,04% ter sido puxada pelos "in natura" (56,85%) e semi-elaborados (46,8%), os industrializados davam sinais de alta. Eles subiram 43,55%. Na primeira quadrissemana, 41,03%.
A briga para negociar preços em URV reforça a tendência de alta. Segundo um supermercado que prefere não ser identificado, um fabricante de polpa de tomate estaria cobrando 50% a mais em URV em relação à média de preços do último quadrimestre de 93. Em percentuais menores, a situação se repetiria com a ervilha, o biscoito, a maionese e o macarrão. "Não fechamos negócio nessas bases", diz o gerente.
O preço do feijão –que acumulou alta de 165,41% na segunda quadrissemana de março no IPC– recua. A Mendonça de Barros Assessores afirma que a cotação caiu 3,11% para o produtor e 11,85% no atacado na semana encerrada em 19 de março, comparada com a anterior. "Os preços devem cair na mesma velocidade que subiram com a entrada da safra", diz o consultor André Pessoa.
Nessa mesma semana, os preços da carne começaram a refluir tanto no atacado (-1,2%) como no campo (-4,20%). A análise de Pessoa é que o pecuarista percebeu que esses preços não se sustentariam muito tempo com baixo consumo.
A oferta de hortifrútis também começa a melhorar, segundo Carmo. Mas o índice da Fipe da terceira quadrissemana ainda deve estar contaminado pela alta. A queda só vai aparecer no final de março.

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