São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Para cientista, implante de chip é possibilidade

STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

O implante médico do futuro não será uma articulação artificial de quadril ou inserções destinadas a manter os seios erguidos, mas algo mais cerebral: chips de computador para serem implantados no cérebro.
Na quinta-feira passada, um importante cientista britânico descreveu um sonho –ou talvez pesadelo– digno de George Orwell (autor do romance "1984", sobre um mundo hipotético em que o Estado domina a vida e a mente das pessoas): a possibilidade de inserir um chip de silicone em cérebros humanos, para aumentar a memória e o desempenho intelectual das pessoas que sofreram danos no crânio.
Silicone
Colin Humphreys, professor de Ciência de Materiais na Universidade de Cambridge, Inglaterra, disse que é possível prever realisticamente um dia em que os cirurgiões poderão prender aos circuitos vivos do cérebro minúsculos circuitos artificiais de memória gravados sobre microscópicos chips de silicone.
"Se conseguirmos compreender a 'interface' –a 'fronteira' entre os chips de silicone e as células cerebrais–, existirá uma possibilidade de implantar chips de silicone no cérebro humano", disse o professor Humphreys numa conferência médica proferida no hospital Hammersmith, em Londres.
Alzheimer
"Estes implantes possivelmente representam um tratamento parcial para a doença de Alzheimer, uma desordem cerebral degenerativa que atinge muitos idosos. Ou talvez sejam uma maneira de o homem ampliar sua inteligência, no futuro".
Memória permanente
Segundo o professor Humphreys, o objetivo final é criar um implante de silicone "que o cérebro veja como mais um pedaço de cérebro que está ali". As vantagens dos chips de computador é que "as informações contidas neles jamais são esquecidas", disse o professor. Talvez também seja possível projetar chips que o cérebro poderia utilizar para registrar novas informações, mais ou menos como faz um disquete de computador. Telefones
"Poderia ser muito útil para conservar números de telefone na memória", disse o professor. Segundo Humphreys, os computadores fazem algumas coisas, como por exemplo jogar xadrez, de modo mais confiável do que os seres humanos, mas o cérebro humano é melhor quando se trata, por exemplo, de reconhecer rostos. "Se conseguirmos combinar as duas coisas, teremos o melhor dos dois mundos".
O professor Humphreys afirmou que já existe a tecnologia submicroscópica necessária para gravar o conteúdo integral da Enciclopédia Britânica, em letras de tamanho molecular, sobre a cabeça de um alfinete. A mesma tecnologia poderia ser utilizada para criar um chip para ser implantado no cérebro.
Ética
Mas ele reconheceu que esse trabalho suscitaria seríssimos problemas éticos. "Será preciso examinar todas estas questões com grande cuidado", disse ele. A idéia de implantes cerebrais sugere a possibilidade de que algumas pessoas pudessem controlar a mente de outras.
Segundo o professor Humphreys, as funções cerebrais se enquadram em duas categorias gerais: aquelas que são realizadas em determinadas regiões bem definidas do cérebro, e as que são menos localizadas. A idéia seria utilizar chips de silicone inicialmente para substituir as funções que são localizadas e que se encontram prejudicadas ou incapacitadas de alguma maneira.
"Estamos falando de problemas realmente complexos", disse ele. Humphreys admitiu que será preciso realizar uma quantidade enorme de pesquisas para superá-los e que seria difícil obter financiamento para um trabalho especulativo desse tipo.
Tradução de Clara Allain

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