São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
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Transmissão do Oscar no SBT tem mais acertos do que erros

SÉRGIO DAVILA
DA REVISTA DA FOLHA

"Rubens, por que os cachorros?". O Oscar estava no meio e Boris Casoy, perplexo. Direto do Dorothy Chandler Pavillion, em LA, James Ingram acabava de cantar "The Day I Fall In Love", do filme "Bethoven 2", aquele em que um são-bernardo é o astro.
Assim foi a estréia do SBT na transmissão do evento: o crítico Rubens Ewald Filho, que é do ramo, deu um banho de informações, e o âncora do "TJ Brasil" Boris Casoy, jornalista completo no noticiário, escorregu em um assunto que não domina.
Mas a noite teve mais acertos que erros: o SBT optou por levar a cerimônia ao ar na íntegra (o que só havia sido feito pela Globosat, apenas para seus assinantes) e teve transparência total na cobertura. Entre outras coisas, mostrou que a festa segue um roteiro previamente determinado.
E mais: mandou o repórter Arnaldo Duran para Los Angeles, com entradas ao vivo, revelou que a apresentadora tem um ponto eletrônico para seus "improvisos" e optou por não traduzir as piadinhas intraduzíveis das celebridades.
Já a tradução simultânea continua um problema intransponível. O casal contratado chamou Oscar de "Oshcárr" e criou um conceito novo no ramo: a tradução interpretativa. Quando Holly Hunter dizia seu discurso emocionado, por exemplo, a tradutora embargava a voz e fungava –só faltou traduzir o nome da atriz para "Azevim Caçador"...
Jô Soares antecedeu a festa com um bom show em que reclamou os direitos autorais da estatueta para o Troféu Imprensa e traduziu expressões idiomáticas com inapelável humor. Um candidato óbvio em 1995 à cadeira de Casoy, que entre outras coisas chamou Sharon Stone de Sharon Tate.
Ewald ainda não aprimorou sua pronúncia em inglês (Harrison Ford vira Arizon Ford) mas salvou a noite. Que teve problemas técnicos como as falhas do áudio no começo –ok, as músicas eram ruins, mas nunca vamos ter certeza disso. E de concepção, caso da "cobertura" da repórter Zileide Silva no Gallery.
Provincianismo é nada para definir a festa de bicões a bordo de smokings o-defunto-era-maior e mulheres em bolos-de-noiva na boate paulistana. Com dois agravantes: Tonia Carrero em versão etílica e Zileide chamando o estúdio com "É com você, 'Rubinho"'.
Vale a sugestão para o SBT em 1995: que tal deixar a cafonália local de lado e ir atrás das festas que acontecem depois da cerimônia em Los Angeles, como o tradicional baile do governador? É nelas que as personalidades estão mais para Dorothy Parker que para Dorothy Chandler.

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