São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desafios e lições com o fim da Rodada Uruguai

LUIZ ANTONIO PINAZZA

A Rodada Uruguai do Gatt terminou em 15 de dezembro último. Foi a oitava e mais longa negociação realizada -sete anos e três meses de duração. O acordo será assinado em Marrakech, no Marrocos, em 15 de abril.
Tudo está selado por agora. Uma nova rodada virá em 2000, desta feita sob o âmbito da Organização Multilateral de Comércio (MTC), organismo que substituirá o Gatt.
Pouco tem sido comentado sobre o assunto no Brasil, provavelmente pelo alto grau de fechamento da nossa economia.
Porém, no agrobusiness nacional, que possui alta competitividade internacional, aspectos relevantes chamam a atenção. É o caso da resistência das nações ricas para manter o elevado subsídio e protecionismo em seus complexos agroindustriais.
As mudanças previstas nas políticas agrícolas são amenas, extremamente graduais e devem acontecer até o final do século. Elas não trazem impactos imediatos. Tanto assim que a massa de subsídio anual, da ordem de 80% do PIB brasileiro, poderá até continuar inchando.
Montanhas de grãos, carnes e manteiga e grandes lagos de leite continuarão sendo produzidos. A consequência é o aviltamento nos preços das commodities agrícolas, o que penaliza os países agroexportadores.
Na verdade, lá, inclusive no meio urbano, é forte o conceito da segurança alimentar. Isto, de alguma forma, leva a uma postura conservadora com relação à reforma das políticas agrícolas, além de todo o lobby rural e do agrobusiness.
Com relação à política de segurança alimentar, estamos patinando há muito tempo. Não conseguimos desenvolvê-la e implementá-la pela falta de consciência de sua importância. A campanha do Betinho é apenas o início de uma longa caminhada.
Aqui, em curtíssimo espaço de tempo, por absoluta falta de política agrícola, o campo sofreu abrupta descapitalização. Com a liberalização dos mercados internos, tivemos intempestivas importações de grãos, carnes e produtos lácteos subsidiados na origem. A triticultura e a cotonicultura nacional foram duramente castigadas. Somente no algodão, mais de 200 mil brasileiros perderam emprego. Imagine o que aconteceria se tal fato ocorresse em setores da comunidade urbana.
Evidentemente, não sobram motivos para o Brasil discordar do nível brutal de protecionismo com que o agrobusiness é tratado pelos países desenvolvidos. Mas é imprescindível entender as razões pelo qual isto é feito. E até aprender que a vitalidade econômica de uma nação depende, em muito, do fortalecimento do mercado interno.
Iniciativa privada e governo devem ter o devido cuidado neste trabalho.

Texto Anterior: Otimismo; Armazéns; Novo presidente; Paraná; Plano do café; US$ 4 milhões; Renovação
Próximo Texto: Reservas hídricas permitem plantio no Estado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.