São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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FHC fala como candidato, mas só anuncia saída na 4ª

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

FHC fala como candidato, mas só anuncia saída na 4.ª
Ministro afirma que Lula 'mostra estar preocupado em perder a eleição'
O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmou ontem que vai anunciar na próxima quarta-feira, dia 30, se permanece ou não no cargo.
Mas ao mesmo tempo, o ministro já falava como candidato à Presidência disparando farpas na direção do virtual candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
"O Lula mostra estar preocupado em perder a eleição", disse FHC em resposta à declaração de Lula, segundo a qual ele seria uma "mãe desnaturada que esquece o filho na sala do parto".
O petista fez essa comparação no domingo em Campina Grande (PB) ao se referir à possível saída do ministro, deixando a execução de seu plano de estabilização nas mãos de um sucessor, para disputar a Presidência.
Sobre seu futuro político, FHC disse que ia conversar "hoje (ontem) com o presidente Itamar Franco, amanhã (hoje) com o PSDB e na quarta-feira eu anuncio a minha decisão".
A declaração foi feita após uma reunião com agricultores paulistas na Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo).
Apesar do suspense sobre sua candidatura à sucessão presidencial, o ministro FHC, às vezes, cometeu atos falhos, e falou como candidato.
"O nome do embaixador Rubens Ricupero é ótimo para assumir a pasta da Fazenda", afirmou.
Depois tentou corrigir: "Isto é, caso eu saia para disputar a Presidência, porque o ministro da Fazenda sou eu".
Ricupero, ministro da Amazônia Legal e Meio Ambiente, já foi convidado pelo presidente Itamar para ocupar o lugar de FHC.
O presidente aguarda apenas que Fernando Henrique formalize sua decisão de concorrer às eleições de outubro.
O ministro da Fazenda disse que disputar ou não a Presidência é uma questão de "foro íntimo". Ele afirmou que "está sentindo" vários setores da população.
"Tenho andado sozinho para sentir a reação de vários setores da população, porque ninguém pode querer por querer ser candidato à Presidência", afirmou.
Agindo, assim, como pré-candidato, FHC andou a pé, sozinho, os cerca de 200 metros da praça da República, onde seu carro o deixou, até a sede da Faesp no número 224 da rua Barão de Itapetininga (centro de São Paulo).
As pessoas na rua, a maioria desempregados em busca de vagas na bolsa de empregos que funciona no local, só se deram conta de que era o ministro da Fazenda devido ao acompanhamento ruidoso dos jornalistas e equipes de TV.
Mas se a resposta ao seu discurso aos agropecuaristas de São Paulo pode servir como indicador de seu termômetro eleitoral, a leitura é positiva.
FHC prometeu aos empresários, "uma agricultura forte, porque sem ela não há moeda forte, financiamentos a juros baixos e tratamento condescendente com os agricultores inadimplentes, mas que continuam trabalhando".
O ministro foi muito aplaudido ao encerrar seu discurso dizendo que, "de acordo com sua filosofia política, um governo forte não mostra seu poder pela arrogância mas com responsabilidade, reconhecendo erros, quando os cometer, e sem quebrar as regras de direito".(Antonio Carlos Seidl)

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Sobre as eleições de outubro à pág. 1-10

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