São Paulo, terça-feira, 29 de março de 1994
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Há um jogo sujo em andamento

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Vou tocar hoje num tema delicadíssimo –e é um dos principais assuntos dos bastidores da sucessão presidencial, revelando o jogo sujo que se está armando. Aqui e ali, candidatos já fazem insinuações de que Fernando Henrique Cardoso teria um filho fora do casamento. E indicam que, se necessário, explorariam o tema na campanha. É correto?
Numa entrevista à revista "Exame", Fernando Henrique Cardoso acaba de abordar abertamente essa questão. Reproduzo trecho: "Dizem que tenho uma mulher aqui, outra ali, um filho. Isso é uma besteirada. Essas coisas não se sustentam. Vão falar um milhão de coisas a meu respeito. Isso não tem nada a ver com a vida pública nem privada. Do Quércia dizem outra coisa, não vou entrar nisso".
Não vou entrar aqui na discussão sobre se o ministro tem ou não um filho fora do casamento. Levanto outra pergunta: até que ponto um homem público tem direito à privacidade? Não é uma resposta fácil e, a julgar pelos dossiês que vêm sendo montados clandestinamente, é uma pergunta que exige resposta urgente.
Não é uma resposta fácil porque nem sempre sabe-se com precisão o limite entre o público e do privado. Não tenho dúvida, por exemplo, de que Lula foi vítima de uma invasão indevida, patrocinada pela calhordice política de Miriam Cordeiro. E, agora, ela ameaça voltar com mais baixaria. Aliás, o PT tentou usar o mesmo golpe contra Paulo Maluf na eleição para a Prefeitura de São Paulo.
O Brasil tem dramas gigantescos como mortalidade infantil vergonhosa, as cidades transformadas em praça de guerra, hospitais imundos, escolas indecentes, desemprego alto, salário baixo, e assim por diante. Tudo isso exige um programa sólido e um amplo debate nacional.
Seria uma perda de tempo transformar a eleição, momento raro de debate nacional, num desfile de fuxicos e mexericos. O importante é saber qual o programa do candidato, as condições para executá-lo, seu passado administrativo e a coerência de suas idéias. O resto é show.
PS – O mais canalha do jogo sujo das campanhas é que sofrem mais as pessoas inocentes e indefesas psicologicamente como filhos ou mulheres de candidatos.

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