São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Maluf na parede

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Maluf está acuado. Ontem, no TJ, garantia que seu nome continua "à disposição" do partido, mas admitia com o rosto cansado que "parte" da população de São Paulo não quer que ele saia candidato. Não foi um bom dia, para o candidato Maluf. Começou bem cedo, como mostrou o SP Já, com a "via crucis" armada pelos padres da Pastoral do Menor.
Algumas das cenas montadas pelos religiosos foram de grande impacto, sendo repetidas depois em telejornais diversos, como o Rede Cidade, o Informe São Paulo, o Jornal Bandeirantes. Numa delas, um menino foi crucificado. Em outra, uma criança de rua levantou a camisa para mostrar sinais da surra que teria levado da Polícia Metropolitana, "de cassetete".
No meio do espetáculo, um padre aproveitava o palanque aos gritos de "eles deixam as crianças sem merenda" etc. O prefeito até que ensaiou alguma reação, dizendo na Globo que os padres deveriam pregar confraternização às crianças e não política partidária, ou dizendo na Rede Record que tudo "está dez vez melhor do que na administração anterior".
Mesmo então, o prefeito não mostrava o ânimo de outros tempos. E a pressão não parou por aí. À tarde foi a vez dos ataques do Conselho Regional de Medicina, que apareceu com um relatório da "situação crítica" na saúde municipal. O âncora do TJ não segurou mais e condenou então a cultura da obra faraônica que "relega educação e saúde para o segundo plano".
Mas o pior ainda estava por vir. No Jornal Bandeirantes, o presidente do PPR, legenda malufista, admitia que as coisas estão cada vez mais difíceis para o candidato. Espiridião Amin até repetiu a razão para a possível desistência, lembrando que "parte" dos paulistanos não quer Maluf candidato. "Eu me impressionaria com isso. Por que ele não há de se impressionar?"
Encenação
Enquanto os malufistas viviam um dia de pressões –que não devem ser restritas àquelas citadas– os tucanos encenavam a aceitação da candidatura por FHC. Em todos os telejornais, Tasso Jereissati abriu dizendo que a candidatura "é imprescindível para o país" e Fernando Henrique aceitou dizendo, "cedo ao apelo do meu partido com humildade". Como atores, os dois não convencem.

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