São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 1994
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Pose é tudo que restou do punk londrino

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Pouco restou da London punk descrita por Lydon em sua autobiografia. O principal endereço era King's Road 430, "o lugar para se estar", onde funcionava a loja Sex, do empresário-mentor dos Sex Pistols, Malcolm McLaren, e da estilista Vivienne Westwood.
A loja hoje tem o nome de Westwood e lembra um brechó de Pinheiros (sem ofensa). Vende roupas retrôs pós-punk como corpetes, espartilhos, colares de pérolas falsas gigantes, jaquetas de couro rasgadas. Preços exorbitantes. Westwood fez o nome com os Pistols. Na loja tem um relógio andando para trás, sob a inscrição "o mundo vai acabar em..."
Foi na loja que Lydon foi convocado para ser o vocalista dos Pistols. McLaren marcou um encontro no pub Roebuck (extinto), também em King's Road. Entre Lydon e os outros três Pistols foi ódio à primeira vista. Quando foram do pub para a loja, para Lydon mostrar como "não" sabia cantar, dublando a música "Eighteen" de Alice Cooper, o sentimento se agravou. Mas McLaren insistiu para que o garoto de cabelo verde ficasse na banda.
King's Road servia de ponto de encontro do mundo punk. Quando a coisa aumentou, eram constantes os quebra-paus entre grupos de punks e "teddys" (garotões bem comportados).
Hoje, King's Road é apenas uma rua fashion de Chelsea, com lojas chiques, como Kenzo, e outras moderninhas. Não se vê punks na rua. Quando aparece, é o punk de butique, detestado por Lydon.
Outro lugar de Londres marcante para Lydon é a região de Finsbury Park, onde ele cresceu. Habitada então quase só por imigrantes irlandeses como os seus dois pais, a região agora abriga turcos, gregos e negros do Caribe e África. Lydon lembra o tempo todo em seu livro como odiava a "moda" punk, as pessoas indo aos shows dos Pistols todas vestidas iguais, com atitude uniforme. "Não era nada disso", diz ele. Punk não era pose, mas uma postura negativa. Só restou a pose. (Sérgio Malbergier)

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