São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 1994
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Um "grid" insólito

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A desistência de Paulo Maluf de disputar a sucessão presidencial permite a montagem semi-definitiva do "grid" de largada. Um estranho "grid", aliás, pois há um primeiro colocado (Luiz Inácio Lula da Silva, do PT), mas não há o segundo, que era justamente Maluf.
Mais: o ex-presidente José Sarney, o outro potencial candidato que disputava com Maluf o segundo lugar nas pesquisas, tem formidáveis dificuldades pela frente até para alinhar-se para a partida do GP-94. Depende de o seu partido, o PMDB, adotar a prévia, de a prévia ser considerada instrumento idôneo de seleção do candidato por todos os grupos peemedebistas, de vencer a prévia e de conseguir colar os cacos de um partido esgarçado pelas disputas internas.
Para Orestes Quércia, o outro nome já autolançado no PMDB, as dificuldades são praticamente as mesmas de Sarney, agravadas pelo fato de que as denúncias de corrupção tendem a pesar muito. Se já atrapalharam enormemente a caminhada de Quércia em seu próprio partido, imagine-se como será quando estiver sob o foco dos holofotes da mídia e dos adversários, durante a campanha propriamente dita.
Quanto a Leonel Brizola, o problema é o de sempre: obter votos em Minas Gerais e, principalmente, em São Paulo, Estado que concentra 19,8 milhões de eleitores ou 21,95% dos 90 milhões aptos a votar em outubro.
Mas há outros elementos importantes no "grid" de largada, a saber:
1 - Haverá, em 94, apenas três candidatos com base em São Paulo. Eram cinco em 89 (Lula, Covas, Maluf, Ulysses e Afif, sem contar Collor, que acabou sendo o mais votado. Com dispersão menor no maior colégio eleitoral, beneficiam-se os candidatos com base paulista (Lula, FHC e principalmente Quércia, cujos eleitores, em tese, têm perfil semelhante aos de Maluf, agora fora do jogo).
2 - Saiu de cena um instrumento de pressão do PFL sobre o PSDB. Agora, os pefelistas não podem mais ameaçar coligar-se com Maluf para vender caro o seu apoio a FHC. Se ameaçarem lançar candidato próprio (Antônio Carlos Magalhães), não cola porque os "tucanos" sabem que é puro blefe.

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