São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Lista do bicho envolve políticos

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Pode chegar a US$ 1 milhão (CR$ 915 milhões) o total de propinas e contribuições de campanha pagos pela cúpula do jogo do bicho carioca a policiais federais, civis, militares, radialistas e políticos nos últimos três anos.
Entre as pessoas que teriam recebido dinheiro do jogo do bicho estão a deputada federal Cidinha Campos (PDT), o deputado estadual Emir Larangeira (sem partido) e o ex-deputado Aguinaldo Timóteo (veja ao lado a lista dos supostos envolvidos já divulgada).
A previsão é baseada nos primeiros levantamentos feitos pelo Ministério Público na documentação apreendida anteontem na casa onde funcionava o escritório central do bicheiro Castor de Andrade, em Bangu (zona oeste do Rio).
São cerca de 60 disquetes de computador e mais de 50 livros contábeis onde aparecem nomes e quantias em dólar e em cruzeiros.
A operação, cercada de absoluto sigilo, foi realizada na quarta-feira por promotores e policiais militares do Serviço Reservado e do Batalhão de Operações Especiais.
Além dos documentos, havia também, segundo os promotores, máquinas de videopôquer contrabandeadas, armas, dinheiro –patrimônio avaliado em aproximadamente US$ 3 milhões.
Foram detidas 25 pessoas no escritório e em outros cinco endereços ligados a Castor de Andrade.
As listas apontam quase todas as divisões e departamentos da Polícia Civil do Rio como recebedoras de quantias mensais.
Alguns delegados são citados nominalmente, como o recém-empossado secretário de Polícia Civil, Jorge Mário Gomes. O ex-secretário de Polícia Militar, Manoel Elísio dos Santos, e o atual superintendente da Polícia Federal no Rio, Edson de Oliveira, também estão nas listagens.
"São documentos com credibilidade e força de prova, que mostram arrecadação e pagamentos de propinas. Há elementos para indiciar pessoas por contrabando, corrupção ativa e passiva, nas esferas estadual e federal", disse o procurador-geral de Justiça do Estado do Rio, Antônio Carlos Biscaia.
Segundo ele, a informação do endereço do escritório de Castor chegou à procuradoria na última segunda-feira, quando a operação começou a ser preparada.
A operação gerou uma crise na polícia carioca. Os promotores disseram que a Polícia Federal chegou a negar-se a periciar o local anteontem, só aceitando fazê-lo depois de negociação.
O delegado Carlos Alberto Campagnac, titular da 34ª DP (Bangu), onde foi lavrado o flagrante, é um dos citados na lista de propinas de Castor de Andrade.
O promotor Antônio José Campos Moreira disse que no escritório funcionava a apuração do jogo do bicho em vários Estados, como Rio, Minas Gerais e Amazonas.
"Por medida de segurança, eles mudam o endereço do escritório de 20 em 20 dias. As investigações dirão se a propina relacionada era só de Castor ou se ele pagava pelos outros bicheiros também".
Na casa, de dois andares e nove salas, havia um depósito de peças sobressalentes para máquinas de videopôquer e videobicho.
Castor
O advogado de Castor de Andrade, Nélio Machado, afirmou que vai "aguardar a evolução dos fatos" para se pronunciar. Machado disse que Castor não deverá dar entrevista. Ele afirmou que acompanhou o caso pelos jornais e que, a princípio, "nada de irregular foi encontrado no escritório".
O advogado disse desconhecer a existência de documentos que demonstrariam o pagamento de propinas a autoridades policiais.

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