São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Saiba fazer roteiro sacro na Páscoa

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Interessados em arte e arquitetura, ainda que não-católicos ou mesmo ateus, dispõem nesta Semana Santa de um bom pretexto para conhecer o variado patrimônio eclesiástico da cidade.
"Em São Paulo, você encontra em quantidade exemplos que te dão uma idéia bastante ampla do que orientou a construção de igrejas nos últimos dois séculos", diz o arquiteto Antônio Luiz Dias de Andrade, 46, coordenador-regional do (IBPC) Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural.
Quem quiser seguir um roteiro cronológico deve começar a visita, sugere Andrade, por uma de três igrejas: Nossa Senhora da Boa Morte, Santo Antônio ou São Francisco de Assis (veja quadro).
São as igrejas que retratam o período mais antigo, ao redor do século 18, da arquitetura eclesiástica da cidade. Sucessivamente reformadas ao longo dos anos, essas igrejas conservam ainda paredes de taipa (feitas de barro e areia).
A Nossa Senhora da Boa Morte deve seu nome, segundo a lenda, aos escravos condenados à morte na cidade. Esses escravos eram levados a pé da Baixada do Glicério até o Pelourinho, na Liberdade. No caminho, paravam para rezar e pedir uma "boa morte" à Nossa Senhora. O apelido "colou" e foi adotado como nome pela igreja.
Como outras igrejas do período, a Nossa Senhora da Boa Morte está em péssimo estado de conservação. Sérgio Bradanini, padre que cuida da igreja, diz que não pode fazer nada e aguarda uma iniciativa do Condephaat –o órgão de defesa do patrimônio histórico de São Paulo–, responsável pelo tombamento do imóvel.
O mosteiro de São Bento e a Catedral de São Paulo (Sé) representam um segundo grupo de igrejas, aquelas construídas no final do século passado e início deste. São igrejas que refletem, segundo Andrade, um fenômeno arquitetônico de caráter mundial.
"No último quarto do século passado, o que prevaleceu em todo o mundo foi a arquitetura eclética e historicista. O neogótico (Sé) e o neo-românico (São Bento) predominaram nas construções", diz.
Professor de história da arquitetura na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), Andrade indica, para discussão, a Igreja do Padre José de Anchieta (Pátio do Colégio) –uma construção nova que busca recriar a fisionomia de uma antiga igreja.
"É uma iniciativa que tem sido condenada: refazer coisas que não existem mais. É falso. No fundo, você está criando um cenário, criando uma falsa idéia. É uma contrafação", diz o arquiteto.
A Igreja da Vila Madalena e a Igreja Nossa Senhora Mãe do Salvador são duas das poucas igrejas representativas da arquitetura moderna paulista na cidade.
A primeira é resultado de um projeto de Joaquim Guedes e a segunda nasceu da associação de Francisco Segnini Jr. e Joaquim Barreto (já morto).
Segnini, 50, diz que a "Igreja da Cruz Torta" (apelido pelo qual a construção é conhecida) paga tributo às idéias em vigor nos anos 60 e 70, como a utilização de telhas pré-moldadas e o concreto aparente.
O projeto da igreja é de 1972 e ela funciona desde 74. "É uma igreja limpa, sem imagens. Também evitamos o vitral, uma coisa primária", diz Segnini.
Segundo o arquiteto, talvez por conservadorismo, São Paulo não exibe um bom painel de igrejas modernas. "É possível contar nos dedos as igrejas com espaços não-convencionais", diz.
As igrejas frequentadas por comunidades nacionais formam o último grupo a ser visitado. Entre essas, a mais interessante é a Catedral Ortodoxa, que não comemora a Páscoa esta semana, e cuja obra é uma replica da Igreja de Santa Sofia, em Istambul.
A igreja segue o ritual bizantino e a liturgia é feita em árabe, grego e português. Fundada por sírios, a Catedral Ortodoxa é também frequentada por descendentes de libaneses e gregos.

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