São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Negócios deslancham na última semana do mês

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As negociações entre indústria e comércio deslancharam na última semana do primeiro mês da URV (Unidade Real de Valor). Desde segunda-feira, lojistas e empresas estão fechando contratos de compra e venda, após muita conversa em torno de preços, prazo de pagamento e taxa de juros.
Para agilizar os negócios, empresários dos dois setores decidiram trabalhar com preços à vista e deixar para mais tarde o uso da URV que, em breve, vai se transformar no real. Ainda são poucos os contratos a prazo, indexados à URV, negociados entre eles.
As empresas tiveram de se entender porque o consumo ganhou fôlego. Em março, apesar de marcar a estréia da URV, as vendas à vista no comércio de São Paulo estão maiores do que em igual período de 93 e de 92.
A média diária de consultas em março ao Telecheque, serviço da Associação Comercial de São Paulo, foi 6,14% maior do que em março de 93 e 12,5% maior do que em março de 92.
Para Emílio Alfieri, economista da associação, as consultas ao Telecheque vêm crescendo desde novembro de 93 –sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior. "O Plano FHC não atrapalhou essa tendência. O fato é que houve aumento do poder aquisitivo do consumidor."
As consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), termômetro das vendas a prazo, no entanto, continuam em queda. Ainda segundo a associação, a média diária de consultas a esse serviço caiu 10,5% em março na comparação com igual período do ano passado e está praticamente igual à de março de 1992. "Isso por causa das altas taxas de juros e das incertezas quanto ao futuro da economia."
As indústrias estão satisfeitas com o resultado das negociações com os lojistas. Lourival Kiçula, coordenador da área de eletrodomésticos da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), informa que as empresas venderam praticamente tudo o que programaram para março. Nestes últimos dias, conta ele, algumas delas comercializaram até 50% da produção do mês.
"As indústrias estão negociando em cruzeiros reais porque muitos Estados ainda não regulamentaram a aplicação do ICMS nos contratos em URV. Alguns empresários querem passar diretamente do cruzeiro real para o real sem adotar a URV nos contratos." O setor, diz ele, está trabalhando com prazo máximo de pagamento de 30 dias, com taxa de juros de 40% ao mês.
"O lojista tem certeza de que os produtos vão girar nas prateleiras", diz Eduardo Magalhães, vice-presidente da Abinee. A Sharp superou as metas de vendas para março. A expectativa era de comercializar 45 mil televisores em cores. Já vendeu 50 mil unidades.
A Black & Decker conseguiu vender em março o que planejou –o mesmo volume comercializado em março do ano passado. Surpresa para a empresa é que até faltou produto para entregar às lojas. São eles: aspiradores de pó, um modelo de ferro de passar roupas e algumas ferramentas elétricas.
A B&D está operando com 20% de ociosidade. A Consul, do grupo Brasmotor, vai até dar início a um programa de contratação -entre 200 a 300 pessoas– para as suas unidades de Joinville (SC).
Michael Klein, da Casas Bahia, diz que fez compras no final de março e pagou à vista. Segundo ele, os negócios foram fechados com as empresas que venderam os produtos pelo mesmo preço à vista –em URV- que praticavam no mês passado. Ele conta que o crediário em URV já representa 50% das vendas à prazo da empresa.

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