São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Pai consumista cria 'loucos por loja'

DA REPORTAGEM LOCAL

Marianne, 7, tem 17 pares de brincos. Bruno, 8, tem seu próprio videocassete, TV, aparelho de som e videogame (Supernintendo). Seu irmão, Vitor, 4, também. Tito, 7, guarda suas quatro bolas de basquete debaixo de sua coleção de bonés (11). Eles são os hiperconsumistas mirins. Além de compras em shoppings brasileiros, alguns sonham ir encher sacolas em Miami (EUA).
Aos seis ou sete anos sabem diferenciar um vestido de uma salopette (espécie de jardineira em forma de vestido) e gastam CR$ 100 mil numa roupa de festa.
Segundo psicanalistas, não se trata de compulsão. A maioria apenas reflete a atitude dos pais. Se filhos de devoradores de vitrines ou vítimas contumazes do marketing, vão se tornar sedentos por lojas.
"O consumismo é um comportamento formado na família. Não é natural que as crianças atendam sem mais aos apelos da publicidade. Precisa haver predisposição", diz o psicanalista Nélio Sacramento, 51, que há 20 anos trabalha com crianças.
Algumas crianças chegam a se cansar dos presentes materiais. Tito, quatro bolas de basquete (duas Spalding, americanas, uma Mikasa e uma Penalty), já cansou até dos presentes de Natal. "No final do ano quero viajar para a África", diz. "Ele quer ver leões, mas na selva", explica o pai, Felipe, executivo de uma empresa alemã.
Marcela Oliveira, 6, cliente da Giovanna Baby e Zuchero (vestidos de CR$ 50 mil a CR$ 100 mil), também incluiu viagens entre seus objetos de desejo. "Não quero mais ir mais para o hotel fazenda. Quero ir para Miami, fazer compras."
A Páscoa é outro época do ano preferida pelos consumistas mirins. Tito Sennenszein, 7, diz "que legal mesmo na Páscoa é ganhar os ovos bem grandões, para ver o que tem dentro". Até sexta-feira, ele já havia ganho cinco.
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Sobre crianças consumistas à pág. 3.

Colaborou LUCIANA VAZ GUIMARÃES, da Editoria de Arte

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