São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Britânicos discutem o fim dos monarcas

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

"Que cargo é este que crianças e imbecis são capazes de ocupar? É necessário algum talento para ser um trabalhador comum; para ser um rei é preciso apenas ser uma figura humana, um autômato vivo."
A monarquia na Inglaterra sobreviveu a esse ataque do republicano Tom Paine, em 1792, mas talvez não por muito mais tempo.
As casas de apostas de Londres pagam 4 a 1 que não haverá mais monarquia no ano 2001.
Segundo o instituto de pesquisas Mori, cerca de 25% dos britânicos são hoje contra a monarquia.
Em 1981, ano do casamento do príncipe Charles e da princesa Diana (hoje separados), o número seria quase insignificante. E, se a pergunta for se o príncipe-herdeiro Charles deve assumir o trono de Elizabeth 2ª, o sentimento antimonarquia cresce ainda mais.
Quarta-feira quebrou-se um tabu de autocensura na emissora BBC (estatal), com o programa "A Opção Radical - Elizabeth, a Última". Monarquistas e republicanos separados por um mediador trocaram acalorados argumentos contra e a favor da monarquia.
Os monarquistas disseram que um rei ou rainha é muito mais difícil de ser corrompido do que um presidente e deram o exemplo das prósperas monarquias dos países nórdicos.
Mas ficou difícil de engolir a alegação de "exemplo moral" dos monarcas depois da onda de escândalos envolvendo os herdeiros de Elizabeth.
Já os republicanos disseram que a monarquia em si é a antítese da democracia, com seus direitos e privilégios hereditários, e que a família real é um gasto desnecessário para uma economia com cada vez mais desempregados.
Os exemplos de países republicanos usados aqui foram Alemanha e França, as nações mais ricas da Europa.
Liderava os republicanos Stephen Haseler, acadêmico e político, chefe do grupo República -até há pouco obscuro e hoje com mais de 1.000 membros, muitos deles líderes da esquerda e da direita.
Mas o maior difusor da causa republicana foram os tablóides sensacionalistas, alimentados pelos escândalos da família real.
Reverentes aos monarcas até a década de 80, alguns fazem atualmente apelos diretos pelo fim da monarquia.
O colunista Richard Littlejohn escreveu no "The Sun" (do republicano Rupert Murdoch, tiragem de 3,5 milhões): "A família real personifica todo o podre sistema de privilégios e esnobismo."
A família real parece mesmo esnobar as especulações sobre se vai ou não haver um Charles 3º.
No dia seguinte ao programa, a rainha esteve com a elegância de sempre na cerimônia de lava-pés, distribuindo moedas para 68 homens e mulheres –número igual à sua idade–, numa cerimônia que data do século 12.
Charles, por sua vez, foi levar o conforto real à família de uma adolescente esfaqueada na sala de aula. Um gesto nobre, sem dúvida.

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