São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Emilinha conta como Welles a molestou

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O livro "História da Minha Vida (Artística)" ainda não se materializou, mas Emilinha Borba o tem quase inteiro em pensamento.
Já estruturou capítulos completos, como o da sua infância, o da entrada para o mundo artístico e o –inevitável– da rivalidade com Marlene. Mesmo sem querer, deve expor sua vida privada.
Emilinha se diz tímida e afirma que seus amores foram poucos e constantes. "Fui casada entre 1956 e 1976 com Artur de Souza Costa, filho de um ministro de Getúlio Vargas. Hoje namoro o mineiro Walter Mendonça e é só".
Se fosse só isso, não haveria tanta curiosidade da parte dos fãs. Nas últimas duas semanas, correu o boato de que a cantora contaria tudo sobre o caso que teria tido com o cineasta norte-americano Orson Welles (1915-1985) quando ele visitou o Brasil para filmar "It's All True", em 1942.
"Não tive caso com Welles. A verdade é que ele se apaixonou por mim, me assediou e não conseguiu. Eu era 'crooner' do Cassino da Urca. Welles estava sempre lá. Conversei umas três vezes com ele. Disse que me faria uma estrela. Não falava inglês e fiquei sem graça diante daquele americano grandão. Foi passageiro".
Mesmo porque estava comprometida com o cantor e ciumento Nilton Paz, que rechaçou o pretendente."Sei que o Welles teve caso com a estrela do Cassino na época, mas não digo quem é". E precisa? A estrela era Linda Batista (1919-1988). O anedotário do cassino registra que Linda rasgou o melhor vestido de Emilinha num surto de ciúme.
Linda sucedeu Carmen Miranda (1909-1955) no cassino e, pelo jeito, quis suprimir os rastros da antecessora. Foi Carmen que indicou Emilinha ao proprietário da casa noturna, Joaquim Rolas.
"Minha mãe era camareira do cassino e muito amiga de Carmen", lembra-se. "Viúva, tinha dificuldade para criar sete filhas (eu era a sétima). Vivíamos num apartamento pequeno em Copacabana. Meu apelido era 'Negrinha' e eu conhecia o repertório de Carmen. Ao ver a vida sofrida da minha mãe, Carmen lhe perguntou: 'Edith, você não tem uma filha com veia artística?' A Emília, mas ela só tem 13 anos, explicou. 'Traga-a que eu lhe arranjo um contrato'. Mamãe foi me buscar." Carmen emprestou-lhe dois vestidos e os sapatos de saltos altíssimos. "Estreei disfarçando a idade e com a roupa e o sapato de Carmen".
Não precisaria desses adereços dez anos depois. Emilinha promete contar como experimentou o estrelato na Rádio Nacional a partir de 1949. "Nesse ano, começou a guerra entre o fãs-clubes."
A rivalidade com Marlene vai merecer prudência. "Os fãs iniciaram a guerra por causa do concurso Rainha do Rádio, ganho merecidamente por ela. Toda vez que nos apresentamos juntas acontece algo. Respeito o trabalho dela. Sou contra a histeria dos fãs".
Um dos episódios mais engraçados de que ela se recorda aconteceu por volta de 1953, depois de ter ganho a Rainha do Rádio: "Eu me apresentava no auditório da rádio Globo cheio de fãs. Como boa virginiana, tenho um olho clínico e notei que uma moça na platéia não era minha fã. Quando saí, a moça veio em cima de mim. Em vez de me abraçar, me deu uma alfinetada na nádega". Era fã de Marlene.
"Ela também sofreu", diz. "Uma fã minha deu uma joelhada na barriga dela".
No livro, Emilinha vai fixar também a cena da aranha. No início de 1952, ela cantava no teatro Beira-Rio em Manaus. "De repente, vi uma aranha pendurada na minha frente. Tenho horror a esse bicho e saí correndo. Deixei meus fãs sem entender nada". Na ocasião, o cantor Francisco Alves (1898-1952), em temporada sem sucesso em outro teatro de Manaus, veio lhe falar. "Você esvaziou meu espetáculo", disse o cantor. "Da próxima vez, me avise porque vou cantar em lugares em que você não estiver".
Emilinha não pretende parar. Está viajando mais para o Exterior. Em setembro estará em Miami, onde é conhecida como Emily. Se tudo correr bem, vai escrever mais um capítulo de biografia: o da salvadora da marchinha. Ela e os compositores Braguinha e João Roberto Kelly estão planejando fundar uma Escola de Marcha e gravar um CD com músicas inéditas. "A marchinha precisa voltar a ditar moda no Carnaval", decreta.

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