São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Professor confirma suspeita de fraude e envolve delegado da PF

CLAUDIA TREVISAN; FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Armando Laganá, da Escola Politécnica da USP, confirmou ao juiz federal Casem Mazloum que viu o delegado Antonio Decaro Júnior, da PF (Polícia Federal), encontrar-se com Arie Halpern, presidente da Trace Trading Company, fora da PF.
Laganá depôs no processo em que Halpern -intermediário das importações de Israel no governo Quércia– é acusado de fraudar as perícias e induzir Decaro a não aprofundar as investigações.
O delegado encerrou prematuramente a primeira fase do inquérito sobre as importações, sem licitação, no valor de US$ 310 milhões. Decaro não indiciou ninguém.
Decaro também foi denunciado no mesmo inquérito. Habeas-corpus concedido em maio de 92 pelo juiz federal João Carlos da Rocha Mattos interrompeu a ação em relação ao delegado.
O Ministério Público recorreu da decisão ao TRF (Tribunal Regional Federal). Até hoje o recurso não foi julgado. Ele está com o relator, o juiz Célio Benevides.
Laganá confirmou os levantamentos de preços que indicaram as primeiras suspeitas de superfaturamento. Disse que encontrou equipamentos na Unesp fornecidos pela Trace com o objetivo de induzir os peritos em erro.
Os equipamentos eram uma interface (peça do sistema de ensino) fabricada pela Emco e outra pela Babytech. Esta última não consta das guias de importação.
A defesa de Halpern tentou, sem sucesso, desqualificar o testemunho de Laganá, porque ele propôs queixa-crime por difamação e calúnia contra o empresário.
Em resposta aos advogados de Halpern, Laganá disse que nunca presenciou qualquer tentativa de corrupção envolvendo Halpern, o delegado e os peritos.
Ontem depuseram os delegados da PF Sueli Goerisch e José Bocamino. Segundo o procurador Mario Bonsaglia, Bocamino disse ter visto Decaro elaborar o relatório do inquérito um mês antes de a perícia ser concluída.
"Isso demonstra que o teor do relatório já estava decidido antes da finalização do laudo", observa.
Sueli fez a revisão gramatical do relatório a pedido de Decaro. Ela disse que o documento lhe foi entregue em disquete de computador.
Sueli disse que Decaro não trabalha com computador e seus relatórios eram feitos a máquina.
Hoje vão depor os coronéis da PM Fernando Balestrero e Antônio Valdir Gonçalves.
(Frederico Vasconcelos e Cláudia Trevisan)

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