São Paulo, sábado, 9 de abril de 1994
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Imagens contam história de dois séculos

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma exposição fotográfica, que pode também ser vista em terminais de computadores, está sendo apresentada com sucesso pela Barbican Art Gallery, de Londres.
Com o título de "All Human Life", ela reúne 500 fotos expostas nas salas da galerias e 10 mil armazenadas em compact-discs, pelo sistema CD-Rom.
O sistema faz parte de uma tecnologia revolucionária, oferecendo imagens e informações que aparecem na tela, sempre acompanhadas por música e narrações.
O evento foi organizado pela Hulton Deutsch Collection, que está reunindo seu acervo em CDs, para facilitar as consultas de estudantes e interessados.
A Hulton é uma das maiores agências da Europa e trabalha com a empresa de computadores Apple Macintosh, que também faz as gravações em CDs numa série batizada de "Decades".
Segundo Sue Percival, 26, curadora da Hulton, os CDs mostram fotos históricas, realizadas nos séculos 19 e 20, por agências e fotógrafos célebres.
Entre eles, Cecil Beaton (1904-1980), Werner Bischof (1916-1954), Julia Margaret Cameron (1815-1879), Cartier-Bresson (1908) e Ernst Haas (1921-1986)
Esses fotógrafos produziram retratos, cenas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e registros da vida e das paisagens européias em várias décadas.
"A mostra não pretende contar a história da fotografia e do fotojornalismo, mas revelar as diversas experiências humanas ao longo dos cem anos da evolução fotográfica", explica Sue.
Com exclusividade, a Folha entrevistou a curadora da Hulton e também uma das organizadoras da exposição.
*
Folha - Como você distingue a exposição ao abordar a questão da vida humana?
Sue Percival - Ela foi fruto de uma profunda reflexão sobre os temas que possuímos na coleção e eles refletem a vida humana em todo o seu esplendor.
Isso é atraente e combina com o gosto e a emoção popular. Aliás, a mostra é popular, o que é muito importante para os organizadores.
Folha - Que tipo de contribuição artística e técnica a exposição apresenta para os fotógrafos e o público em geral?
Percival - Mostramos que os trabalhos do século 19, como os de Margaret Cameron, evidenciam beleza, plasticidade e muito bom gosto. Então, caminhamos para os CD-Roms, em que os visitantes sentam e brincam, escolhendo as imagens que desejam ver.
Cada um deles tem a oportunidade de conhecer as preocupações conceituais de cada fotógrafo e harmonizá-lo com a arte e as técnicas das épocas escolhidas.
Folha - Mas, ao que parece, a exposição dá ênfase ao fotojornalismo? Ou abre espaço para as escolas abstracionistas?
Percival - A maioria das fotos pertence às agências internacionais, portanto, a ênfase é para o fotojornalismo. No entanto, existe espaço para outros segmentos artísticos percorrido pela fotografia.
Folha - O processo de seleção teve algum critério conceitual?
Percival - Nosso trabalho durou mais de seis meses: olhávamos uma vez, depois tornávamos a olhar e assim sucessivamente, até que a seleção se definiu pelas imagens com maior força de expressão, mas sem limitá-las em sua construção e sem existir preconcepções.
Folha - Para uma exposição tão diferente e original, como está sendo a repercussão entre o público?
Percival - Ela foi aberta em janeiro e até o momento, o registro é de 2.000 a 3.000 pessoas por semana. Até seu encerramento, esperamos um maior número.
Folha - Qual é sua opinião pessoal sobre "All Human Life"?
Percival - Acho-a excitante, primeiro por que ela quebra a rotina das exposições comuns, por causa da secção dos CDs-Rom; segundo, porque as pessoas se emocionam com a possibilidade de vivenciar nas imagens as experiências humanas.
Em suma, o tema e as atividades nessa exibição formam pontos, que agradam a todos.
Folha - Como curadora da Hulton Deutsch Collection, você tem intenção de mostrar a exposição em outros países, no caso, o Brasil?
Percival - Sim, e já estamos organizados para isso, aguardando contato de entidades interessadas.
Folha - Por falar em Brasil, existe algum brasileiro na mostra, como Sebastião Salgado e Miguel de Rio Branco?
Percival - Salgado e Rio Branco pertencem a Agência Magum. Ela é independente, não estando ligada a nós.

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