São Paulo, sábado, 9 de abril de 1994
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O Brasil que queremos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

É chegado o tempo para os partidos definirem seus programas. Já começou a apresentação dos presidenciáveis. Surgem grupos de reflexão no desejo de participarem na vida política, interessados em romper o corporativismo e assegurar condições dignas de vida para todos. Entre esses grupos atuantes encontra-se a equipe da CNBB que prepara a 2ª Semana Social Brasileira, a se realizar de 24 a 29 de julho em Brasília.
Acaba de ser lançado o "Instrumento de Trabalho", com o título "Brasil: Alternativas e Protagonistas", que sintetiza o conjunto das sugestões colhidas durante um ano, nas 14 semanas regionais.
A primeira parte do texto procura respeitar a diversidade das propostas de cada uma das cinco regiões geográficas e culturais. Resume, a seguir, as questões comuns:
a) Concentração crescente de renda, pois em dez anos, de 1981 a 1990, os 10% mais ricos continuaram aumentando sua renda, ao passo que os 80% mais pobres ficaram ainda mais desprovidos.
b) Concentração da terra no campo e na cidade: 1% dos proprietários rurais possuem 45,8% das terras, sendo 75% ociosas.
c) Concentração política: os Estados não participam na elaboração dos planos nacionais.
d) Aumento dramático do número de excluídos, com vida cada vez mais degradante.
e) Crescimento da violência com tendência à anomia e perda da confiança nas instituições.
A segunda parte do documento analisa quatro desafios: 1) procurar a saída da crise econômica, respeitando a prioridade do social; 2) construir o Estado democrático que elimine a corrupção e a criminalidade e assegure o acompanhamento da sociedade civil sobre o aparelho estatal; 3) superar a dominação política e cultural para afirmação da cidadania, participação e solidariedade; 4) valorizar os novos sujeitos populares a partir dos valores e sinais de mudança que propõem.
Na terceira parte explicita-se a dimensão ética, reafirmando a dignidade da pessoa humana, como fundamento da nova sociedade, ajudando a redescobrir a beleza da vida e do amor e o respeito à criança, aos índios e a todos os oprimidos. Querem viver com dignidade.
O texto acrescenta o elenco dos novos agentes sociais, apresentando a enorme variedade das experiências populares que fazem recuar a dominação, ampliam os direitos individuais e sociais e alimentam a esperança de uma sociedade sem opressão. Estes movimentos populares têm em comum o método participativo e uma especial atenção aos excluídos.
Conclui o "Instrumento de Trabalho" uma série de 12 perspectivas viáveis para o país. Todas são importantes, mas entre elas seleciono duas, por causa da urgência: o acesso à terra por parte de milhares de famílias que aguardam o direito de trabalhar e a reforma da política carcerária.
A Igreja Católica oferece, com modéstia, esses subsídios, na intenção de suscitar outras propostas e de cooperar, à luz do Evangelho, para a construção de um projeto nacional que responda aos justos anseios do povo. É hora de somarmos os esforços.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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