São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Qualidade é indispensável

EMERSON KAPAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entre as diversas tendências que se acentuam no Brasil, uma delas veio para ficar. Trata-se da terceirização, através da qual se organiza o sistema produtivo, diminui-se o tamanho das organizações e se aumenta a eficiência dos processos.
As micro e pequenas empresas resultantes da terceirização precisam atentar para dois pontos fundamentais que vão balizar o êxito dos empreendimentos. Um é a necessidade de maturidade nas relações com as empresas-clientes de seus bens ou serviços. Trata-se de imprimir desde o princípio a marca da qualidade e de um alto grau de profissionalismo nas relações entre as empresas. Essa maturidade também precisa ser exigida das empresas-clientes, que devem aprender a enxergar as micro e pequenas fornecedoras como parceiras e não adversárias.
A segunda é a própria organização da atividade interna feita sob a égide da Qualidade Total. Isso significa trabalhar o presente e preparar o futuro em um ambiente de crescimento permanente do nível de Qualidade Total.
Uma direção recomendável é a da adaptação às normas internacionais, no caso da produção de bens. Não há dúvida de que uma pequena empresa que segue normas internacionais tem uma vantagem competitiva a extraordinária frente a suas concorrentes.
Foi com esse espírito que a Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) celebrou um convênio com o Sebrae, pelo qual 14 pequenas e médias empresas do setor vão se atualizar em relação à norma ISO 9000.
Quem não se adaptar a esta norma corre o risco de ficar fora do mercado, tanto neste segmento onde já está havendo ou haverá forte concorrência dos produtos estrangeiros em futuro próximo. É certo que a qualidade deve ser uma preocupação da empresa com os produtos e processos de produção e gerenciamento. Adaptar-se às diretrizes e normas internacionais no campo dos produtos e processos de produção é relativamente fácil. Trata-se de adotar os procedimentos técnicos e logísticos que assegurem a mudança da cultura da empresa.
Já a elevação do patamar de qualidade no gerenciamento passa por um redimensionamento das relações capital-trabalho, que precisam, necessariamente, alçar-se a um nível superior.
Nesse ponto, trata-se de adotar simultaneamente algumas ações que certamente colocarão a empresa à altura dos novos desafios. É preciso, incialmente, traçar uma política para os recursos humanos, que preveja a qualidade das relações capital-trabalho. Aí estão incluídas a política salarial, a política de segurança do trabalho e a política da representação dos trabalhadores na empresa, de forma a elevar seu grau de motivação, participação e responsabilidade.
No âmbito dessa política, as próprias relações entre os trabalhadores precisam elevar-se de patamar. As chefias não podem ser orientadas a "mandar". A figura arcaica do feitor foi extinta junto com a abolição da escravatura, em 1888.
Os escalões intermediários precisam ser treinados para assumir o papel de coordenadores da produção. Sei que no início é difícil essa mudança cultural, acentuada pelo paternalismo característico das micro e pequenas empresas.
Mas se quisermos que a Qualidade Total seja uma marca de nossas empresas, precisamos deixar o paternalismo para trás, treinar os escalões intermediários e, sobretudo, conscientizarmo-nos de que a qualidade do produto não se consegue sem qualidade nas relações capital-trabalho.

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