São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Juros perigosos

DEMIAN FIOCCA

O governo utiliza os juros como instrumento de política monetária, elevando as taxas para conter a demanda e a inflação, ou reduzindo-as para estimular o crescimento.
A economia brasileira, porém, tem características que complicam tais mecanismos.
A inflação crônica, a indexação e a fragilização do Estado fizeram com que os títulos públicos tivessem prazos extremamente reduzidos, de um mês predominatemente. Países com economias estáveis financiam sua dívida pública com títulos de até 30 anos.
Isto faz com que, no médio prazo, os juros tenham efeito inverso ao desejado. Em princípio, taxas altas reduzem a quantidade de moeda em circulação. Mas, ao final de 30 dias, acabam despejando ainda mais moeda na economia.
Juros altos elevam também os custos financeiros e o patamar de lucro desejado pelas empresas. Sob esse aspecto, pressionam os preços para cima.
A elevada remuneração dos títulos gera gastos adicionais para o governo, prejudicando o balanço fiscal.
A possibilidade de que, após a introdução do real, a equipe econômica eleve ainda mais o já alto patamar de juros –hoje entre os 25% e 30% reais ao ano– traz incerteza sobre o sucesso do plano no médio prazo.

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