São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muda vínculo entre empresa e profissional

ANA ASTIZ
EDITORA DE EMPREGOS

As mudanças nos processos de trabalho e na estrutura hierárquica das organizações estão gerando um novo tipo de relacionamento empresa-profissional. Se a empresa busca bom desempenho e comprometimento, os profissionais começam a exigir oportunidades de desenvolvimento técnico que os tornem mais preparados e competitivos no mercado de trabalho.
O objetivo é estar permanentemente atualizado e preparado para conseguir outra colocação quando seu cargo não for mais necessário na empresa. Essa possibilidade é cada vez mais real –pode acontecer quando um departamento for terceirizado ou um projeto tiver sido concluído.
O novo vínculo empresa-profissional foi o principal assunto abordado por James Cabrera e Donald Stevens, dois dos principais executivos da consultoria multinacional Drake Beam Morin, Inc., em entrevista exclusiva à Folha no escritório da empresa em São Paulo. Victoria Bloch, diretora da DBM do Brasil, falou sobre o processo de reestruturação das empresas no país e os efeitos sobre o nível de emprego. A seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - As demissões são um fenômeno mundial. Até quando devem continuar? É possível identificar diferentes estágios nos processos de reestruturação nos Estados Unidos, Comunidade Econômica Européia (CEE) e América Latina?
James Cabrera - O que temos visto nos EUA são demissões em larga escala nos últimos cinco anos. Nossas estimativas é que elas devem continuar por mais três anos. A CEE está no meio –entre 25% e 50%– dos processos de "downsizing" (de redução de níveis hierárquicos).
Donald Stevens - O que percebemos em termos mundiais é que há uma relação direta entre a legislação social e as demissões. Nos países do G-7 (grupo dos países mais industrializados do mundo, composto por EUA, Canadá, Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha e Japão) há um relaxamento de muitas das leis sociais. Isso permitirá que mais organizações façam as mudanças necessárias. Estamos prevendo também que o Nafta (acordo de livre comércio entre México, EUA e Canadá) precipitará um grande número de reestruturações, alianças estratégicas e fusões. As empresas estarão sempre migrando para onde os custos são mais baixos.
Folha - E em que etapa estaria o Brasil?
Victoria Bloch - Ao contrário do que está ocorrendo em outros países, teremos criação de mais empregos nos próximos cinco anos porque ainda precisamos fazer a transição para as novas tecnologias. Mas se as pessoas não forem treinadas e preparadas para as novas tecnologias, teremos uma nova fase de "downsizing" e aumento da utilização dos serviços de "outplacement" (veja texto ao lado).
Como os profissionais podem se preparar para as mudanças?
Cabrera - As empresas não cortam quadros para sair do mercado. Elas demitem para se tornarem mais eficientes, competitivas e produtivas. Para conseguir isso, têm que revitalizar os funcionários que ficam. Têm que conseguir que eles enfoquem missão, valores e estratégias diferentes das que existiam antes. Reengenharia é um termo que se tornou popular para descrever processos que incluem o produto, o lucro e o funcionário. Nós da DBM enfocamos o lado do funcionário –construção de novas equipes, reestabelecimento do compromisso empresa-funcionário, redefinição de papéis. Isso envolve diversas técnicas. Uma delas é a melhora da capacitação.
Folha - As empresas estão assumindo mesmo essa missão?
Cabrera - É preciso olhar para o passado para entender. As duas últimas gerações acreditavam que a empresa tomaria conta de suas carreiras. Esse contrato psicológico foi rompido e substituído por uma parceria mais saudável para a empresa. Ela não é mais responsável pelo gerenciamento da carreira dos funcionários. Eles é que devem assumir essa tarefa.
Folha - Como "funciona" esse novo modelo de relacionamento?
Cabrera - Do lado da empresa, o novo contrato pressupõe bom desempenho e comprometimento mediante pagamento de um salário, mas não emprego para a vida toda. Do outro lado, o profissional se compromete a dar o melhor de sua capacidade por um bom salário. Também espera que, como parte do contrato, a empresa lhe proporcione capacitação em novas técnicas. Mas não só nos aspectos do trabalho que deve desenvolver na organização. Capacitação para que o profissional, caso demitido, domine conhecimentos transferíveis que o tornem "empregável" em outros setores. A nova parceria está criando um novo ambiente de trabalho nas organizações, de valores e objetivos compartilhados.
Isso está ocorrendo também nas empresas brasileiras?
Bloch - O que estamos vendo aqui nas grandes empresas é uma relação totalmente diferente da que existia. A construção das equipes está trazendo de volta o conceito de comunidade.
Stevens - Por causa da globalização e da necessidade de conquistar maior competitividade a teoria do dar poder às pessoas –"empowerment"– está se tornando muito prática. As pessoas na linha de produção se tornam responsáveis não só pela produção mas pelo processo produtivo.

Texto Anterior: Como fica o salário se a jornada é reduzida?
Próximo Texto: Saiba o que é 'outplacement'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.