São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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'A Viagem' põe mortos e vivos cara a cara; dupla garante humor ao drama

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

"A Viagem" estréia amanhã na Globo com uma missão: recuperar o horário de 19h para tramas mais sérias do que os embates teens e as comédias de costumes que preencheram a faixa nos últimos meses.
A novela de Ivani Ribeiro foi exibida originalmente pela TV Tupi, em 1975 (leia texto à pág. 10). Tem a reencarnação como tema central. O "remake" global transplanta para o horário de 19h a fórmula que deu certo às 18h, com "Mulheres de Areia".
Sólido dramalhão, "A VIagem" foi elogiada, à época da primeira exibição, por seguidores do espiritismo, que a consideravam uma descrição "fiel" da vida pós-morte. No "remake", Guilherme Fontes será Alexandre, um marginal que morre e volta para se vingar de seus algozes.
Entre eles, estão o advogado criminalista Otávio (Antonio Fagundes), envolvido com Diná (Cristiane Torloni), irmã de Alexandre (leia sobre os principais personagens à pág. 10).
Se promete pegar pesado, "A Viagem" não dispensa o humor. Foi por isto que a Globo escalou para a novela, além de Torloni, Fagundes, Fontes, Andréa Beltrão, Miguel Falabella e outros, a dupla Nair Bello e Ary Fontoura, capaz de animar até os velórios previstos no script.
Quem achou a frase forte não conhece Nair, legítima representante de uma linhagem ítalo-brasileira, nascida no Cambuci e criada no Ipiranga. "Minha família tem isso, de desandar a rir ou a chorar nas ocasiões mais impróprias. Já tivemos que sair de enterro para não dar vexame", conta a atriz.
Nair tem 63 anos. Em "A Viagem", vai interpretar Cininha, ex-vedete que herdou um casarão do marido e o transformou em pensão. Um dos hóspedes é Tibério (Fontoura), boa alma, trajes sóbrios, peruca hilária. É por ele que Cininha se derrete. Mas há concorrência.
Apesar da temática predominante, Tibério será o único personagem que tem linha direta com o além. Sempre com ele estará a voz em "off" de seu "protetor", uma entidade que sussurra em seu ouvido coisas como "essa Cininha é uma fofoqueira". Pode até não pintar romance entre os dois, mas muitas risadas estão garantidas.
"Meu tipo de humor é mais contido. Já a Nair tem uma graça explosiva", define Fontoura, 61, que nunca contracenou com a atriz. "É essa química que faz a parceria dar certo", completa Nair, que luta para conviver com os cílios postiços da personagem.
A vida após a morte, tema central da novela, é encarada pelos dois de forma diferente. Nair, espírita, tornou-se ainda mais convicta depois que recebeu de Chico Xavier uma carta psicigrafada do filho que perdera um ano antes. "Foram 45 páginas com detalhes que apenas eu e meu filho conhecíamos".
Ao seu lado, Fontoura está arrepiado. "Acho que tem que haver um outro plano e tenho, às vezes, curiosidade de saber como é lá. Mas, para mim, o inferno é aqui mesmo", afirma.
Só que com essa dupla a seriedade não dura muito tempo, embora Fontoura continua elocubrando sobre a morte: "Outro dia fui visitar um amigo e quando cheguei lá soube que ele havia morrido. Agora, sempre ligo antes e pergunto –você está vivo?".
Nair Bello ri de perder o fôlego. "O brasileiro é muito místico, por isso acho que essa novela será um sucesso", prevê.
Também para Fontoura, o êxito é garantido. "O público quer história. Se há um bom texto e uma direção que deixa os atores à vontade, tudo fica mais fácil", diz, com experiência de mais de 25 novelas.
Se o romance entre os dois personagens está na pauta, beijo nem pensar. Em seus 44 anos de carreira, Nair jamais foi beijada diante das cameras ou no palco. O maridão Irineu Souza Francisco não deixa.
"Minha sorte é que sou comediante e o beijo não faz muita falta". Em casa, ela vai à forra. "Meu marido continua me prestigiando, por isso nem faço plástica".

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Sobre "A Viagem" à pág. 10

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