São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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Lula pode dar 'murro' e controlar os radicais

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O comando da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva reflete a situação do partido hoje. Cada um dos três coordenadores gerais representa uma corrente petista.
Mas cresce no PT a aposta sobre o "murro na mesa" que o candidato ainda pode dar.
Formalmente, a campanha está hoje nas mãos da Executiva do partido. Os três coordenadores são Aloizio Mercadante (da tendência de centro do PT), Luiz Eduardo Greenhalgh (extrema-esquerda) e Rui Falcão (esquerda).
Todas as segundas-feiras, os três tomam as principais decisões da campanha que não precisam de aprovação imediata de Lula. Algumas vezes, há negociação com Lula.
O virtual candidato, porém, armou uma rede paralela para se livrar das amarras da Executiva. Lula, por exemplo, fez questão de indicar seu amigo Marco Aurélio Garcia para coordenar a equipe que faz o programa de governo que defenderá na campanha.
Além de Garcia, fazem parte do grupo mais próximo a Lula Ricardo Kostcho, Oded Grajew e José Graziano da Silva, professor da Unicamp e especialista em reforma e política agrárias.
A expectativa no PT é que até o final do mês Lula decida tomar a campanha em suas mãos. Lula já ensaiou o gesto algumas vezes, mas recuou. O prazo-limite é a véspera do Encontro Nacional do PT.
É só no encontro que ficará claro quem de fato dará o tom da campanha do candidato à Presidência da República. Pontos como programa de governo e política de alianças serão definidos na ocasião.
Nas últimas caravanas eleitorais pelo país, Lula entrou em atrito com membros de grupos radicais do PT. Os motivos foram desde vaias e faixas contra potenciais aliados até tentativas de veto a encontros com empresários.
Na estrutura petista, cabe aos candidatos apenas encaminhar as decisões do conjunto partidário. Daí o histórico de confrontos entre, por exemplo, diretórios e prefeitos eleitos pelo partido.
No caso específico de Lula, é tradicional a obediência do líder às determinações da cúpula. Mas Lula diz em conversas com amigos que, se perceber o risco de encaminharem sua campanha para o gueto, dará um ultimato ao partido.
Um exemplo da preocupação de não restringir a campanha ao PT é a criação dos "comitês Lula", que serão dirigidos prioritariamente por não-integrantes do partido.
A idéia é de Lula e o objetivo é "oxigenar" a campanha. Outro veículo da tentativa de não limitar ao PT as recomendações a serem seguidas é o "conselho de notáveis", que reunirá personalidades simpáticas a Lula mas não obrigatoriamente petistas. O conselho opinirá sobre os rumos que o candidato deve tomar na campanha.

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