São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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E a lista de São Paulo?

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Todos que acompanham o drama social e econômico do Rio sabiam que mais cedo ou mais tarde surgiria uma lista do bicho.
É um pouco como a história do Collorgate. De uma certa maneira ninguém se surpreendeu quando Pedro Collor começou a falar. Já se sabia que havia algo errado na República de Alagoas, mas não se sabia bem o quê.
O prolongado processo de decadência econômica do Rio enfraqueceu o Estado e criou um vazio preenchido em parte pelo crime organizado –seja pelo bicho, esquadrões da morte, comandos vermelhos e grupos de sequestros, seja pelo pequeno varejo de drogas nos morros.
A sensação que senti quando soube da lista do bicho foi a de que um dia isto fatalmente aconteceria. As relações entre criminosos, polícias, políticos e imprensa é promíscua há anos. A rotina desta convivência criou perigosas relações de tolerância.
Bom, este é o caso do Rio. Azar do Rio, sorte do Rio.
Sorte por que a cidade tem agora a sua melhor oportunidade para romper de vez essa rotina promíscua e viciada e de se reconstruir em novos padrões.
E o resto do Brasil, que acredita que não é como o Rio de Janeiro? E São Paulo, que se imagina distante do drama do Rio e imune por que não vive os mesmo sinais exteriores de destruição social?
Mas alguém duvida que São Paulo hoje é mais importante, principalmente seu interior, para as rotas do tráfico de drogas do que o Rio? Alguém duvida que São Paulo hoje é muito mais importante para o mercado de venda de drogas do que o Rio? E alguém acredita que seja possível o crime organizado se expandir num Estado como São Paulo sem a ajuda dos mesmos agentes públicos que facilitam a vida de bicheiros e traficantes no Rio?
A economia de São Paulo tem conseguido impedir que o crime organizado tenha uma identidade pública, um rosto, como aconteceu no Rio. O que não significa que ele não exista e não atue tanto ou mais do que no Rio. Apenas está mais difícil de enxergar.

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