São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Lula quer evitar imagem de refém do PT

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que sua intervenção no Encontro Nacional do PT terá que ser clara o suficiente para transmitir à opinião pública que é ele quem manda no partido.
"Não estou fazendo campanha para presidente do PT e sim para a Presidência da República", tem repetido Lula a seu grupo de amigos. Com a frase, Lula quer dizer que está perdendo tempo administrando as divergências internas.
Lula quer chegar ao encontro, nos dias 29 e 30 deste mês e com encerramento previsto em 1 de abril, com um acordo fechado com as maiores correntes do PT.
O encontro é a instância máxima de decisão do partido e determinará, entre outros pontos, a versão final do programa de governo. O temor de Lula é que a imagem de um partido em conflagração permanente prejudique sua campanha.
Inicialmente, a caravana eleitoral que Lula começa hoje pelo Maranhão estava planejada para terminar em Brasília, no dia de abertura do encontro. A preocupação do virtual candidato modificou o roteiro.
Lula decidiu retornar a São Paulo no dia 25 para comandar pessoalmente a costura de um acordo que garanta um encontro sem risco de radicalização no programa e na política de alianças estaduais do partido.
Na prática, Lula já iniciou a articulação. No discurso que fez aos delegados ao encontro paulista do PT, no último fim-de-semana, Lula fez uma advertência contra a tentação da intolerância política.
Poucas horas depois, embora tivessem uma apertada maioria de delegados, as alas de esquerda e extrema-esquerda do espectro petista não conseguiram ou não fizeram questão de impor uma derrota ao virtual candidato.
Os grupos mais radicais do PT paulista apresentaram uma proposta que impunha a moratória da dívida externa como prioridade num eventual governo Lula, ao contrário do que defende o virtual candidato petista.
A tese do setor ortodoxo foi derrotada. Negociações comandadas pessoalmente por Lula estão conseguindo que o PT articule coligações estaduais impensáveis em tempo recente.
É o caso, por exemplo, da Paraíba, onde está quase fechado o apoio ao peemedebista Antônio Mariz. No Paraná, a possibilidade de coligação com o pedetista Jaime Lerner é cada vez maior.
O objetivo principal de Lula é patrocinar um acordo entre seu grupo, o "Unidade na Luta", e a facção "Articulaçào de Esquerda", liderada pelo deputado estadual paulista Rui Falcão.
O acordo isolaria os dois extremos do PT, as correntes "Na Luta PT" (extrema-esquerda) e "Democracia Radical" (direita). A união de Falcão com a extrema-esquerda deve ter a maioria dos votos no encontro.
A "Unidade na Luta" cresceu nos últimos encontros estaduais, mas não conseguirá a maioria. Daí a conversa de Lula com Falcão, que está propenso a aceitar as ponderações de Lula.
Lula começa hoje uma caravana eleitoral que passará por Maranhão, Tocantins e Goiás.

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