São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Estado e CNBB levam aulas de religião às escolas públicas

DA REPORTAGEM LOCAL

As escolas públicas estaduais de São Paulo vão oferecer a seus alunos aulas optativas de religião.
É o que prevê um acordo assinado anteontem entre o governador Luiz Antônio Fleury Filho e a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).
O representante da CNBB foi o bispo de Piracicaba, Eduardo Koiak. A entidade, que reúne religiosos da Igreja Católica, vai ajudar a preparar professores das escolas.
As aulas de religião vão ser dadas pelos professores, antes ou depois do horário normal de aulas. A Secretaria da Educação vai supervisionar essas aulas. As diretrizes vão ser definidas dentro de um mês por uma comissão.
A Constituição Federal e a Constituição Estadual prevêm o ensino religioso em escola pública, sem especificar de qual orientação. Mas para o bispo presbiteriano Ariovaldo Ramos, 38, o Governo do Estado "'fere a liberdade religiosa" ao assinar um contrato exclusivo com a Igreja Católica.
"Em 19 Estados as igrejas Católica e Protestante se entendem para dar um ensino religioso interconfessional cristão", afirma Ramos.
Ele é diretor da Associação Evangélica Brasileira, e pretende procurar a Secretaria da Educação para conseguir a participação dos protestantes no ensino religioso.
Na sua opinião, o cristianismo deve ser privilegiado nessas aulas "porque 80% dos brasileiros se declaram cristãos ao IBGE, cerca de 60% católicos e 20% protestantes"
Já para outro sacerdote, o rabino Henry Sobel, o ensino religioso não deve acontecer nas escolas públicas nem mesmo que representantes do judaísmo participem da formação dos professores.
"Nós levamos anos para definir os conceitos comuns entre as religiões. Como os professores vão conseguir passar isso?", questiona.
Sobel, que é presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, acha que os professores teriam que ser dotados de "'altíssimo grau de sensibilidade, disciplina e equilíbrio para passar os valores regiosos".
O rabino acha que a má remuneração dos professores prejudica a sua formação e um eventual trabalho deste tipo. "Não podemos nos esquecer que esta é a realidade do Brasil', afirma.
O presidente da CNBB e o bispo Eduardo Koiak foram procurados ontem por telefone em Itaici, onde participam de reunião da entidade, mas não retornaram a ligação da Folha.
O Secretário da Educação, Carlos Estevam Martins, procurado ontem às 15h, também não atendeu a reportagem.

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