São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
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Gravações preservam qualidade das canções

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

"O que o compositor gosta é de ser cantado", diz Carlos Lyra para justificar sua discreta participação na metade do disco de seu songbook (limita-se a dividir com Lisa Ono a faixa "Maria do Maranhão"). Segundo ele, tudo mais ficou entregue ao produtor e aos intérpretes, cada qual escolhendo uma canção, o andamento, o clima, as harmonias, os arranjos.
Mas deve-se suspeitar de que não tenha sido bem assim. E que a simples presença de Carlos Lyra em alguns ensaios e gravações tenha sido o bastante para que baixasse sobre produtor e intérpretes (pelo menos os mais "inventivos") uma atmosfera de respeito de modo a não permitir abusos.
Esta, aliás, tem sido uma questão chave nos discos produzidos por Almir Chediak. À exceção do dedicado a Vinicius de Moraes, estes songbooks tendem a transformar-se em discos menos autorais do que de intérpretes.
Daí alguns equívocos cometidos no primeiro, o de Noel Rosa, e também nos de Gilberto Gil e Caymmi (neste último, uma das canções é "relida" na base da chamada "axé music", coisa que o mestre confessadamente rejeita). Têm faltado, nessas produções, uma espécie de direção geral, disciplinadora mas não repressora, que tolere liberdades mas não brilharecos deformadores.
Já no CD de Carlos Lyra foram respeitadas suas intenções de melodista (excepcional) e harmonizador (competente). De Tim Maia a Rosana, de João Bosco a Joyce, de Gil a Rosana, todos se comportam bem. Claro, intérprete raro como Caetano Veloso (que consegue a mágica de ser sempre ele mesmo sem trair numa nota o compositor) conhece melhor o mapa da mina.
E Gal Costa, acompanhada por Paulo Belinati em "Coisa Mais Linda", e Nana Caymmi, por Hélio Delmiro em "Canção que Morre no Ar", valem como belas (e, segundo o próprio, comoventes) homenagens a um compositor que, mais do que cantado, gosta de ser bem cantado.

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